8 de dez. de 2014

Aquilo que não muda


Um estudante do Zen procurou um mestre (Bankei) e disse: “Mestre, eu tenho um temperamento incontrolável – como posso curá-lo”?
“Mostre-me esse temperamento”, disse o mestre, “parece fascinante”.
“Eu não o tenho agora”, disse o estudante, “por isso não posso mostra-lo”.
“Bem, então”, disse o mestre, “traga-o a mim quando tiver”.
“Mas eu não posso trazê-lo apenas quando acontecer de tê-lo”, protestou o estudante. “Ele surge inesperadamente, e eu certamente o perderia antes de trazê-lo ao senhor”.
“Nesse caso”, disse o mestre, “ele não pode fazer parte da sua verdadeira natureza. Se fizesse, você poderia mostrá-lo a mim a qualquer momento. Quando você nasceu, você não o tinha, e seus pais não o deram a você – por isso deve ter vindo de fora. Sugiro que, sempre que ele entrar em você, bata nele com um pedaço de pau até que o temperamento não aguente mais e fuja”.

Vamos entender: a verdadeira natureza é a sua natureza eterna. Você não pode tê-la e não tê-la, isso não é algo que vem e vai – é você. É o seu ser. É a sua própria base. Não pode existir às vezes, e não existir outras vezes; ele está sempre presente.
E este deve ser um critério para um buscador da verdade, da natureza, do caminho: aquilo que temos, em nosso ser, permanece para sempre; mesmo antes de você nascer já estava lá e, mesmo quando estiver morto, estará lá. Trata-se do centro. A circunferência muda, o centro continua absolutamente eterno; ele está além do tempo. Nada pode afetá-lo, nada pode modifica-lo; nada realmente o toca; ele permanece além do alcance do mundo exterior.
Vá e contemple o mar. Milhões de ondas se formam, mas no fundo, em suas profundezas, o mar permanece calmo e sereno, em meditação profunda; apenas na superfície existe tumulto; apenas na superfície, onde o mar se encontra com o mundo exterior, com os ventos. Caso contrário, em si mesmo, ele permanece sempre o mesmo, nem mesmo uma ondulação; nada muda.
E acontece a mesma coisa com você. Apenas na superfície, onde você encontra outras pessoas, existe tumulto, ansiedade, raiva, apego, ganância, luxúria – apenas na superfície, onde os ventos vêm e tocam você. E, se permanecer na superfície, você não pode mudar este fenômeno mutante; ele continuará existindo.
Muitas pessoas tentam muda-lo aí, na circunferência – tentam não deixar nenhuma onda surgir. Todos os moralistas tentam mudar o homem na periferia; o caráter é a sua periferia. Mas, perceba, você não traz nenhum caráter para o mundo, você vem absolutamente sem caráter, uma folha em branco, e tudo o que vocês chamam de caráter é escrito pelos outros. Seus pais, a sociedade, professores, ensinamentos – todos são condicionamentos. Portanto, a não ser que você se torne novamente uma folha em branco, você não vai saber o que é a verdadeira natureza.
Então o problema não é como ter um caráter forte, lo problema não é como alcançar a não raiva, como não ser perturbado – não, esse não é o problema. O problema é como mudar a consciência da periferia para o centro. E, de repente, você vê que sempre foi calmo e então pode olhar para a periferia de uma certa distância, e a distância é tão grande – entre o centro e a periferia -, que você pode só observar como se não estivesse acontecendo a você.
A diferença entre um buda e você não é uma diferença de caráter – lembre-se disso. Não é uma diferença de moralidade – é uma diferença de onde está a sua base.
A primeira coisa a ser compreendida é que você faz da periferia a sua base, um Buda faz do centro a sua base. Ele pode olhar da sua própria periferia de longe; quando você bater nele, ele pode ver isso como se você tivesse batido em outra pessoa, porque o centro está muito distante...
A segunda coisa a ser compreendida é que é muito fácil controlar. Difícil é transformar. Você pode controlar a sua raiva, mas o que você vai fazer? Vai reprimi-la. E o que acontece quando você reprime uma determinada coisa? A direção do movimento dela muda; ele estava saindo, mas, se você reprime, ela começa a se voltar para dentro – é só uma mudança de direção. E, era bom que a raiva saísse, porque o veneno precisa ser expelido. É ruim quando a raiva se move para dentro, porque isso significa que toda a sua estrutura mente-corpo vai ser envenenada pela raiva.
E todo mundo está fazendo isso – reprimindo a raiva -, porque a sociedade ensina controle, não transformação. A sociedade diz: “Controle-se” e, através do controle, todas as coisas negativas têm sido jogadas cada vez mais profundamente no inconsciente. Então, elas se tornam uma coisa constante dentro de você. Não é uma questão de que às vezes você fica com raiva e às vezes não – você simplesmente vive com raiva
E a situação é essa. Você está com raiva Como você reprimiu demais essa raiva, agora não há momentos em que você não esteja com raiva; no máximo, às vezes você fica com menos raiva e às vezes, mais. Todo o seu ser está envenenado pela repressão. Você come com raiva – e tem uma qualidade diferente quando uma pessoa come sem raiva: é bonito de ver, porque ela come sem violência. Ela pode estar comendo carne, mas come sem violência; você pode estar comendo apenas vegetais e frutas, mas, se a raiva é reprimida, você come de modo violento.
Comer... Uma atividade absolutamente neutra, mas até isso é envenenado.
Por meio da repressão, a mente fica dividida. A parte que você aceita torna-se consciente, e a parte que você nega se torna inconsciente. E no inconsciente você continua jogando todo lixo que a sociedade rejeita – mas, lembre-se, tudo o que você jogar lá se torna cada vez mais parte de você. Isso entra em suas mãos, em seu sangue, em seus ossos, em seu batimento cardíaco.
Agora os Psicólogos dizem que oitenta por cento das doenças são causadas por emoções reprimidas: tantos infartos significam que tanta raiva foi reprimida no coração, tanto ódio, que o coração está envenenado.
E por quê? Por que o homem reprime tanto e fica doente? A sociedade ensina você a se controlar, não a se transformar, e o caminho da transformação é totalmente diferente.
No controle você reprime, na transformação você expressa. Mas não há necessidade de expressar em outra pessoa, porque essa pessoa é simplesmente irrelevante.

Não há necessidade de jogá-la em ninguém. Você pode fazer uma longa caminhada – isso significa que algo que está dentro precisa de uma atividade rápida para que seja liberado. Basta fazer uma pequena corrida e você vai sentir que isso é liberado, ou pegue um travesseiro e bata nele, soque e morda o travesseiro até que suas mãos e seus dentes estejam relaxados. Numa catarse de cinco minutos você vai se sentir aliviado, e depois que descobrir isso você nunca mais vai jogá-la em ninguém, porque isso é pura tolice.

por Osho

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