Um mestre que vivia como um
eremita numa montanha foi questionado por um monge: “Qual é o caminho”?
“Que bela montanha é esta!”, o
mestre respondeu.
“Eu não estou perguntando sobre a
montanha”, disse o monge, “mas sobre o caminho”.
E o mestre, então, respondeu: “Enquanto
você não puder ir além da montanha, meu filho, não poderá alcançar o caminho”.
O caminho é fácil
– mas você é a montanha e, mais além, está o caminho. Cruzar a si mesmo é muito
difícil. Depois que você está no caminho, não há problema, mas o caminho está
muito longe de você. E você é uma massa de contradições. Do modo como você é,
você é uma multidão de eus, sem nenhuma unidade.
A primeira coisa
a ser entendida é que a multidão precisa se dissipar. Isso significa que você
deve viver sem pensamentos, porque os pensamentos são uma multidão, eles
dividem você. Eles criam um caos dentro de você e são sempre contraditórios.
Então, a
primeira coisa a lembrar é como descartar os pensamentos e tornar-se vazio de
pensamentos – sem pensamentos, mas alerta, porque no sono profundo você também
se torna vazio de pensamentos, e isso não vai adiantar.
A segunda coisa:
você carrega o passado dentro de você. Isso cria multiplicidade.
Você carrega
todo o passado, cada momento dele, e você tem sido muitas coisas! Desde o
ventre até agora, você tem sido milhões de pessoas, e elas estão todas dentro
de você, camada por camada. Você cresceu, mas o passado não desapareceu, ele
pode estar escondido, mas está lá – e não só na mente, está no corpo também.
Reich disse que
o corpo carrega o passado, a mente carrega o passado; e por causa desse estado
carregado você não pode ficar no aqui e agora.
Mesmo quando uma
pessoa se torna velha, ela também é uma criança, um jovem, e tudo o que ele foi
sempre vai estar lá, porque você não sabe como morrer a cada momento. E é nisso
que consiste toda a arte da vida: morrer a cada momento, de modo que não fique
nenhuma reminiscência (resíduo de alguma coisa que não existe mais).
É muito difícil
ser realmente maduro. A pessoa pode nunca amadurecer, a não ser que a criança
simplesmente morra dentro de você; caso contrário, ela vai continuar
influenciando suas ações, seus relacionamentos.
Você precisa
entender esse ponto: tudo o que você faz conscientemente é vivido plenamente e
não é mais uma lembrança de algo que não existe mais (reminiscência). Tudo o
que você vive inconscientemente, torna-se uma lembrança, porque você nunca vive
isso totalmente; algo permanece incompleto.
Então,
descubra... Volte ao passado, retroceda até lá, porque não há outra forma
agora, o passado já não existe mais, por isso, se algo permanece inacabado, a única
maneira é reviver isso na mente.
E seja lá o que
vier, dê total atenção a isso. Viva isso novamente – não apenas lembrar, porque
quando você se lembra de uma coisa, você é um observador imparcial, o que não
vai ajudar. Reviva isso!
Aos poucos, as
lembranças vão vir à tona diante dos seus olhos e elas serão concluídas.
Reviva-as, complete-as; de repente você vai senti-las desprendendo-se de você.
Quando você não
conseguir mais retroceder, só então você seguirá em frente. Não há outra
maneira. E avançar é atingir o caminho, toda consciência avança a cada momento
rumo ao desconhecido.
E o mestre diz:
“mas você é na verdade uma montanha”
Suas pernas estão
sendo puxadas para trás continuamente, pelo passado, o passado está pesando
sobre você, como você pode avançar para o futuro e como pode ficar no presente? A montanha é muito grande, é um Himalaia. Você tem seu Himalaia para carregar,
e os outros têm o Himalaia deles para transportar, e com essas montanhas (de
pensamentos, convicções e preferências), quando você se encontra com as
pessoas, só há confronto e conflito. Toda a vida se torna apenas uma luta, uma
luta violenta, e em todos os lugares você pode ver, sentir e ouvir o confronto.
Sempre que outras pessoas se aproximam, você fica tenso e os outros também
ficam tensos – todos estão levando o próprio Himalaia de tensão, e mais cedo ou
mais tarde eles vão colidir.
Então, conclua o
seu passado. Quanto mais você estiver livre do passado, mais a montanha começa
a desaparecer. E, então, você vai se tornar um.
O mestre diz: “Que bela montanha
é esta”!
Tudo é belo e
divino para um homem que sabe.
Você já observou
que você nunca faz nenhuma pergunta sobre si mesmo, sobre a montanha, você
sempre pergunta sobre o caminho?
E Osho diz:
As pessoas vêm a
mim e perguntam: “O que fazer”? “Como chegar até Deus”? Elas nunca perguntam:
“Como ser”? Elas nunca perguntam nada sobre si mesmas, como se estivessem
absolutamente bem – apenas o caminho está faltando. O que você acha? Você está
absolutamente bem, só que o caminho está faltando? Então, alguém pode dizer:
“Vá para a direita e, em seguida, vire á esquerda e você está no caminho?
Não é tão
simples assim. O caminho está bem diante de você. Não está lhe faltando o
caminho, absolutamente. Você nunca o perdeu. Ninguém pode perde-lo – mas você
não pode olhar para ele, porque você é uma montanha.
Perceba, não é
uma questão de encontrar o caminho, é uma questão de encontrar a si mesmo, quem
você é. Quando você conhece a si mesmo, o caminho aparece.
Portanto, não
pergunte sobre o caminho e não pergunte pelo método. Não pergunte sobre o
remédio. Primeiro pergunte sobre a doença que você é. Primeiro é necessário um
diagnóstico profundo, e ninguém pode fazer esse diagnóstico por você. Você
criou e só o criador conhece todos os cantos e recantos. Você criou, então só
você pode resolver os seus problemas. Um verdadeiro mestre simplesmente o ajuda
a voltar a si. Uma vez que você está lá, o caminho se abre...
Os Hindus dizem
que seja lá o que você for é responsabilidade sua, então, resolva o problema.
Ninguém mais é responsável por você, só você é responsável.
Então,
simplesmente relaxe e deixe estar, e assim, não faça nenhum esforço para mudar
nada. Lembre-se: se você tenta fazer qualquer mudança, vai continuar o mesmo,
porque o próprio esforço continuará a perturbar as coisas.
É como estar
sentado ao lado de um rio: o rio flui, a lama se assenta no fundo, as folhas
mortas vão para o mar; pouco a pouco o rio torna-se absolutamente limpo e cristalino.
Você não precisa entrar no rio para limpá-lo – se você entrar, vai deixar a
água ainda mais turva.
Basta assistir e
as coisas acontecem... Essa é a teoria do Karma: você já fez a maior bagunça,
agora vá ficar sozinho.
Assim você não
precisa descarregar seus problemas nos outros, não precisa descarregar suas
doenças (suas neuroses) nos outros – você simplesmente se move sozinho; sofre
por eles em silêncio, observa-os. Basta sentar na margem do rio da sua mente.
As coisas se acalmam. E quando as coisas se acalmam, você tem uma clareza, uma
percepção. Então você volta para o mundo – se sentir vontade. Nada deve ser uma
obsessão, nem o mundo nem a montanha.
Sempre que você
sente que é natural, sempre que você sente que algo é bom e cura você, sempre que
você sente que está inteiro naquilo, não está dividido – esse é o caminho.
A montanha é
transposta. Você alcançou o caminho – agora siga-o, agora flua para ele. A
montanha é o problema. O caminho estará acessível quando você transpuser a
montanha...
por Osho
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