Começamos
com uma bela história...
Um estudante impetuoso visitou um Mestre Zen. Querendo
impressionar o mestre, ele disse: “Não existe mente, não existe corpo, não
existe buda. Não existe nem melhor nem pior. Não existe nenhum mestre, não
existe nenhum aluno. Não existe dar, não existe receber. O que nós pensamos que
vemos e sentimos não é real”. O mestre estava sentado calmamente, sem dizer
nada. De repente ele pegou seu cajado e deu um terrível golpe no aluno. O aluno
saltou de raiva. O mestre, então, disse: “Se nenhuma dessas coisas realmente
existe e tudo é vazio, de onde vem a sua raiva? Pense nisso”...
Primeiro ponto a entender hoje: o
conhecimento não ajuda muito. Só o Ser pode se tornar o veículo para a outra
margem. Você pode continuar pensando, acumulando informações – mas esses são
barcos de papel, eles não vão ajudar numa viagem oceânica. E se você sair em
viagem com barcos de papel, então se afogará. E as palavras não são nada a não
ser barcos de papel.
Quando acumulamos conhecimento, o que
fazemos? Nada muda interiormente; o Ser permanece absolutamente inalterado.
Assim como poeira no espelho, as informações se acumulam em torno de você. O
espelho continua o mesmo, só que ele perde a sua qualidade de refletir as
coisas. Sua consciência permanece a mesma; o que você sabe através da mente,
não faz diferença; na verdade, atrapalha. Quanto mais você sabe, menos
consciente se torna. Se você está completamente preenchido com erudição, com
conhecimento emprestado, então, nada vem até você como algo seu. Tudo é
emprestado, é repetição, assim como um papagaio repete o que escuta.
A mente é um papagaio, mas um papagaio
pode ter opiniões próprias? Um papagaio não pode ter opiniões próprias – e nem
a mente pode, porque a mente é um mecanismo. A mente é um computador. Ela
acumula. Ela nunca é original. Tudo o que ela tem emprestou, tomou dos outros.
Você só se torna original quando
transcende a mente. Quando a mente é deixada de lado, e a consciência enfrenta
a existência diretamente - de momento a momento, então, pela primeira vez, você
é verdadeiramente você mesmo.
Você não tem que fazer nada. Basta
perceber que tudo o que você sabe você ouviu, você não sabia. Você leu, você
ainda não percebeu. Não é uma revelação para você, é um condicionamento da
mente. Ensinaram a você – você não aprendeu. E a verdade só pode ser aprendida,
não pode ser ensinada. A verdade é uma experiência direta.
Ninguém pode dar a você a verdade,
ninguém. Nem mesmo alguém como Krsna, Buda ou Jesus – ninguém pode dá-la a
você. A menos que você a alcance com sua experiência, não pode alcançá-la. Você
pode ser a verdade, mas não pode ter a verdade.
A segunda coisa a lembrar: esta é uma
tendência humana, tentar mostrar que você tem o que não tem. Se você tem, você
não tenta mostrar, não há por quê. Se você não tem, você tenta mostrar, como se
você tivesse. Assim, lembre-se, o que quer que você queira mostrar às pessoas,
isto é algo que você não tem.
Se você não sabe, você gostaria que as
pessoas pensassem que você sabe. Você gostaria de impressionar as pessoas
fazendo-as pensar que você tem alguma coisa.
Lembre-se de uma coisa: qualquer coisa
que lhe dê uma sensação de ego é uma barreira; qualquer coisa que lhe dê um
sentimento de ausência de ego é um caminho.
Buda chama de falso qualquer coisa
relativa, e de verdadeira qualquer coisa absoluta. Quem é pecador e quem é
santo? Se houver apenas santos no mundo haverá algum santo? Não, o santo existe
por causa do pecador, o pecador existe por causa do santo – são relatividades.
Então, se quer ser um santo, você criará um pecador; você não pode ser um santo
sem que haja pecadores. Portanto, fique atento para não se tornar um santo,
porque, se você se tornar um santo, isso significa que em algum lugar a outra
polaridade terá de existir.
Santos são falsos, os pecadores são
falsos. Quem é você em si mesmo? Se você está sozinho, você é um santo ou um
pecador? Olhe para a realidade que você é, sem relação com nenhuma outra coisa;
olhe para si mesmo, sem relação – então você vai chegar a verdade absoluta;
caso contrário, tudo é apenas um termo relativo. E relatividades são sonhos.
Olhe para si mesmo – então você não
pode usar a linguagem, apenas o silêncio. Apenas através do silêncio a
realidade pode ser indicada. E quando Buda diz: “Todas as palavras são vazias,
todas as coisas são vazias, todos os pensamentos são vazios”, ele diz isso
porque eles são relativos – e a relatividade é um sonho.
Esse é o mais profundo ensinamento do
Buda, portanto uma coisa tem que ser lembrada: você pode repetir as palavras
mais profundas já proferidas, e ainda assim pode ser um idiota.
As palavras carregam o seu Ser. Quando
Buda diz as mesmas palavras, elas têm um significado diferente, um perfume
diferente. As palavras carregam algo do Buda, algo do seu ser: o aroma, o
sabor, o seu interior.
Lembre-se: só por repetir a Bíblia, o
Gita ou os sutras de Buda, não pense que algo vai acontecer, ainda que as
palavras sejam as mesmas e jesus, Krsna e Buda tenham dito as mesmas palavras
que você está repetindo. Quando você atingir uma consciência Crística, ou uma
consciência Krsna ou uma consciência Búdica, então você vai começar a florescer,
então as coisas vão começar a emanar de você – nunca antes. Então não seja como
um papagaio... Porque você só vai poder repetir, mas isso não quer dizer nada.
Perceba... Se você continuar indo cada
vez mais fundo dentro de si mesmo, você encontrará um Buda ali (um Ser
desperto, consciente). E como ir mais fundo em si mesmo?Siga qualquer coisa
que vier de dentro; volte até o lugar de onde veio. A raiva aflorou? Feche os
olhos, é um momento bonito, porque a raiva vem de dentro... Portanto, apenas
olhe para ela, mova-se, basta ver de onde está vindo. De onde?
Procure de onde veio, não procure fora
pela fonte, caso contrário esse belo momento de raiva será perdido. Sua vida
tornou-se tão falsa, que num segundo, você vai colocar a sua máscara novamente.
O falso virá em pouco tempo, por isso
não perca a oportunidade. Quando a raiva irromper, será preciso apenas uma
fração de segundo para que o falso venha à tona – e você colocará a culpa no
outro (alguém é sempre culpado por você estar sentindo raiva). Por isso, não
perca a oportunidade. E a raiva é verdadeira; é mais verdadeira do que o que
você está dizendo – as palavras de Krsna, Buda e Jesus são falsas na sua boca.
Sua raiva é de verdade, porque ela pertence a você. Tudo o que pertence a você
é verdadeiro. Assim encontre a fonte dessa raiva, de onde ela está vindo. Feche
os olhos e volte-se para dentro. Antes que esse momento se perca, vá atrás da
fonte – e você vai atingir o vazio.
Vá mais para trás, mais para dentro,
vá mais profundo e haverá um momento em que não haverá raiva. Lá dentro, no
centro, não existe raiva.
De onde vem a raiva? Ela nunca vem do
seu centro, ela vem do ego – e o ego é uma entidade falsa. Se você for mais
fundo vai descobrir que ela vem da periferia, não do centro. Ela não pode vir
do centro; o centro é vazio, um vazio absoluto. Ela pode vir do ego, e o ego é
uma entidade falsa criada pela sociedade; é a relatividade, uma identidade. De
repente você é atacado e o ego se sente ferido, surge a raiva.
Se você admira, elogia alguém, se você
diz a uma mulher: “Como você é linda”! e ela der um sorriso, esse sorriso é
proveniente do ego, porque no centro não beleza nem feiura. No centro existe o
vazio absoluto, anatta, o não eu – e esse centro tem de ser atingido.
Depois de perceber isso, você vai
viver como um não ser. Ninguém pode fazer você ficar zangado, ninguém pode
fazê-lo feliz, infeliz, triste. Não, nesse vazio, todas as dualidades se
dissipam: feliz, infeliz, triste, alegre, tudo se dissipa. Essa é a condição de
Buda. Isso é o que aconteceu a Sidarta Gautama, sob a árvore Bodhi. Ele atingiu
o vazio. Ali, tudo é silêncio. Transcenderam-se os opostos
Todo mundo ri, sorri – nem o riso é
verdadeiro, nem o sorriso. Todo mundo diz coisas boas uns sobre os outros, mas
ninguém acredita nelas, ninguém se sente assim; isso se tornou uma etiqueta
social.
Sua personalidade é um fenômeno
social. Seu Ser está enterrado lá no fundo, sob essa personalidade. Você
precisa de um choque, de modo que a personalidade seja arrancada, ou por alguns
momentos você não fique mais identificado com ela e atinja o centro. Ali, tudo
é vazio.
Toda a arte da meditação consiste em abandonar a
personalidade sem esforço, mover-se para o centro, e não ser uma pessoa. Apenas
Ser, e não ser uma pessoa é no que consiste toda a arte da meditação, toda a arte
do êxtase interior...
Por Osho
Por Osho
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é importante para mim. Deixe sua mensagem.