7 de abr. de 2015

A filosofia não resolve nada II


Começamos com outra história de Osho...
Ele diz:
Ouvi uma vez, andando uma tarde, ouvi de dentro de uma pequena casa, uma criança choramingando e dizendo: “Mãe, eu estou farto de andar em círculos”. A mãe disse: “Ou você cala a boca ou eu prego o seu outro pé no chão também”.

Mas perceba... Você ainda não está farto. Um pé está pregado na terra e, como essa criança, você está se movendo em círculos. Você é como um disco de vinil quebrado. O mesmo verso se repete, ele continua se repetindo. Você se cansa; através do tédio você fica sonolento. O sono é bom! Depois do sono você se sente revigorado, mas isso não vai leva-lo em direção a verdade; não vai leva-lo em direção ao despertar, absolutamente. Toda a sua vida está se repetindo, passando pela mesma ranhura de novo e de novo e de novo.
E por que esta repetição¿ A mente é repetitiva, é um disco quebrado. A repetição é a própria natureza da mente. No máximo você pode fazer círculos maiores, e com círculos maiores, você pode sentir que há alguma liberdade; com círculos maiores você pode enganar a si mesmo de que as coisas não estão se repetindo.
O círculo de uma pessoa compreende 24h. Se você é inteligente, você pode fazer um círculo de 30 dias; se você é ainda mais inteligente, você pode fazer um círculo de 1 ano; se você é ainda mais inteligente, você pode fazer um círculo de uma vida inteira, mas o círculo permanece o mesmo. Não faz nenhuma diferença. Maior ou menor, você anda no mesmo sulco, na mesma ranhura, você volta para o mesmo ponto.
E devido a esse entendimento, os hindus chamaram a vida de uma roda – sua vida, é claro, não a vida de um buda ou qualquer outro ser desperto. Buda é aquele que saltou para fora da roda. Mas você se apega a roda, você se sente muito seguro lá – e a roda se move; A palavra samsara, a palavra que os hindus usam para este mundo significa roda. Perceba, ela se move na mesma ranhura; você vai e vem, e você faz muita coisa – sem sucesso. Então, onde você se perde¿ Você se perde no primeiro passo.
A natureza da mente é a repetição, e a natureza da vida não é a repetição. A vida é sempre nova, sempre. A novidade é a natureza da vida; nada é velho, não pode ser. A vida nunca se repete, ela simplesmente se torna a cada dia nova, a cada momento nova – e a mente é velha, por isso a mente e a vida nunca se encontram.
Todo esforço da religião é como descartar a mente e passar para a vida, como abandonar o mecanismo repetitivo da mente e entrar no sempre novo, sempre vivo fenômeno da existência. E esse é o ponto principal desta bela história, os Dois quilos de Tozan. Lembra?

O mestre Tozan estava pesando linho no armazém.
Um monge aproximou-se dele e perguntou: “O que é Buda”?
Tozan disse: “Este linho pesa dois quilos”.

Primeiro: um mestre zen não é um recluso, ele não renunciou à vida: sim, ao contrário, ele renunciou à mente e entrou na vida.
Mas o que aconteceu a você¿ Você renunciou a vida apenas para ser a mente. É por isso que as pessoas religiosas fazem rituais: ritual significa um fenômeno repetitivo. Todos os dias pela manhã elas tem que fazer a sua oração: um muçulmano faz cinco orações por dia, um hindu continua fazendo o mesmo ritual todos os dias durante toda a vida, os cristãos têm de ir a igreja todos os domingos... Perceba, apenas um ritual! Porque a mente gosta de repetição, a mente cria um ritual – ela se sente segura.
E se você prestar atenção vai perceber que em sua vida cotidiana, também, a mente cria um ritual. Você ama, você se encontra com amigos, você vai a festas... Tudo é um ritual, tem que ser feito, repetido. Você tem um programa para todos os sete dias da semana, e o programa é fixo – e isso tem sido assim desde sempre. Você se tornou um robô, não vivo. A mente é um robô - um mecanismo repetitivo.

Um homem desperto, um homem iluminado vive no momento presente: você pergunta, ele responde – mas ele não tem respostas fixas. Ele é a resposta. Ele não pensa sobre isso, sobre o que você está perguntando. Neste momento aconteceu do mestre estar pesando linho, e nesse momento aconteceu de o linho pesar dois quilos e, quando o monge perguntou: “O que é Buda”?, no ser de Tozan dois quilos eram a realidade. Ele simplesmente disse: dois quilos de linho.

Parece absurdo na superfície. Se você vai mais fundo, você descobre uma relevância, você encontra uma coerência que não é da mente, mas do ser.
Qualquer coisa que esteja ali no momento será a resposta, porque um Buda vive momento a momento – e se começar a viver momento a momento, você se torna um Buda.

Esta é a mensagem de hoje:
Viva momento a momento e você se torna um Buda. Buda é aquele que vive momento a momento, que não vive no passado, que não vive no futuro, que vive aqui e agora. Buda é uma qualidade de estar presente no aqui e agora – e a condição de Buda não é um objetivo, você não precisa esperar, você pode se tornar um Buda simplesmente aqui e agora.

Neste exato momento você pode despertar. Você pode olhar, você pode agitar a mente um pouco, criar uma descontinuidade, e de repente você entende... Mas se você também é muito inteligente, você não vai entender. Não tente ser muito inteligente, porque há uma sabedoria que é atingida por aqueles que se tornam tolos.
Se você puder ver, e se você puder ver que a resposta não é um absurdo, você entendeu. É uma questão de entendimento não mental. Se ele surge do coração, se você sente isso, não pense, se ele toca todo o seu ser, se ele penetra, não é apenas uma coisa verbal, não é uma filosofia, mas torna-se uma experiência, isso vai transformá-lo.
Eu estou falando sobre essas histórias apenas para chocá-lo e tirá-lo da sua mente, apenas para levar você para um ponto um pouco mais perto do coração – e se você está pronto, então vá ainda mais abaixo, em direção ao umbigo.
Quanto mais para baixo você for, mais fundo vai chegar... E, em última instância, a profundidade e a altura são a mesma coisa.
Basta por hoje.

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