Hoje
começamos com uma pequena história
Mestre
Tozan – um mestre Zen – estava pesando linho no armazém
Um
monge aproximou-se dele e perguntou. O que é Buda?
Tozan
disse: “Este linho pesa dois quilos”.
Vamos tentar entender... Buda era
absolutamente contra a filosofia. Através de sua própria experiência, ele veio
a entender que todas as profundezas da filosofia são apenas superficiais. A
filosofia não resolve nada. Mesmo o maior filósofo permanece tão comum quanto
qualquer um. E o cerne, o núcleo da questão é que a mente é uma faculdade
questionadora: ela pode fazer qualquer tipo de pergunta, e então pode se
enganar respondendo-as.
Perceba... A ignorância gera perguntas
e a ignorância cria respostas. Quando não existe mente você é um ser
experienciando; quando a mente existe você é um ser verbalizando.
Numa pequena escola aconteceu: havia
uma criança muito burra, ela nunca fazia nenhuma pergunta e a professora também
não dava atenção a ela. Mas um dia ela ficou muito animada quando a professora
estava explicando um determinado problema de aritmética, escrevendo alguns
números na lousa. Ela queria perguntar algo. Quando a professora terminou o
problema, ela apagou os números na lousa e ficou muito feliz vendo que, pela
primeira vez, essa criança estava querendo perguntar alguma coisa, e ela disse:
“Estou feliz que queira perguntar alguma coisa. Vá em frente, pergunte”!
A criança ficou de pé e disse: “Estou
muito preocupado, e a pergunta não parava de vir à minha cabeça, mas eu não
conseguia coragem para perguntar. Hoje eu decidi perguntar: “Para onde é que
essas drogas de números vão quando a senhora os apaga”?
Perceba, a questão é muito filosófica,
todas as perguntas são assim. Muitos perguntam para onde vai um buda quando
morre, mas a pergunta é a mesma. Onde está Deus? A pergunta é a mesma. Qual é a
verdade? A pergunta também é a mesma. Mas você não pode sentir a idiotice
escondida nelas, porque elas parecem muito profundas, e essas perguntas têm uma
longa tradição – as pessoas as fazem desde sempre, e pessoas que você acha
maravilhosas têm se preocupado com elas: teorizando, encontrando respostas,
sistemas de criação... Mas todo o esforço é inútil, porque só a experiência
pode lhe dar a resposta, não o pensar. E se você continuar pensando, você vai
ficar cada vez mais louco, e a resposta estará ainda mais longe – mais longe do
que nunca.
Buda diz: Quando a mente para de
questionar, a resposta acontece. É porque você está tão preocupado com as
perguntas que a resposta não pode penetrar em você. Você está com um problema
tão grande, você está tão perturbado, tão tenso que a realidade não pode entrar
em você – você está tremendo tanto por dentro, tremendo de medo, com a neurose,
com perguntas e respostas, com sistemas, filosofias, teorias; você está
entupido de coisas. Mude o padrão... Esvazie-se um pouco... Esvazie a sua mente
um pouco...
Quando você está em silêncio e imóvel,
então a realidade acontece. Questionar significa que você não confia em nada –
tudo se tornou uma pergunta, e quando tudo se torna uma pergunta existe muita
ansiedade. Você já observou a si mesmo? Tudo se torna uma pergunta.
Quando a meditação é mais profunda e
as pessoas têm vislumbres, elas me procuram muito perturbadas porque elas não
podem acreditar que esta felicidade está acontecendo a elas. Elas não podem
acreditar que conseguem ficar em silêncio – impossível.
A confiança não é possível para uma
mente questionadora. E assim que ocorre uma experiência a mente cria uma
pergunta: Por quê?
Você gostaria que todas as suas
perguntas fossem respondidas antes de dar um passo no desconhecido. Mas como
posso dizer? Só pode ser dito em palavras o que você já conhece. Como posso
dizer que existe uma luz, se você sempre viveu na escuridão? Se os seus olhos
estão acostumados apenas com o escuro, como eu posso explicar a você que o sol
nasceu?
E você vai perguntar: “O que você quer
dizer? Você está tentando nos enganar. Vivemos a vida toda e não conhecemos
nada sobre a luz. Primeiro responda nossas perguntas, e então, se estivermos
convencidos, podemos sair com você, caso contrário parece que você está nos
desviando do caminho, nos desviando de nossa vida protegida”.
Mas como a luz pode ser descrita se
você não sabe nada sobre ela? Mas é justamente isso o que as pessoas estão
pedindo: “Convença-nos sobre a divindade, então vamos meditar, então vamos
buscar. Como vamos sair em busca, quando não sabemos para onde estamos indo”?
Isso é desconfiança – e por causa
dessa desconfiança você não consegue avançar rumo ao desconhecido. O conhecido
se apega a você e você se apega ao conhecido – e o conhecido é o passado morto.
Ele pode até parecer aconchegante porque você viveu nele, mas ele está morto,
ele não está vivo.
A
mensagem que fica hoje é: A vida é sempre o desconhecido batendo a sua porta.
Siga com ela – siga com a vida.
Então por alguns instantes viva a
experiência do momento presente – sem perguntas, sem respostas – um simples
vazio preenchido de bênçãos...
Quantos de nós se esforçam para acalmar a mente inquieta? Para isso, lançamos mão de psicólogos, psiquiatras, medicamentos, entorpecentes, bebidas alcoólicas ou técnicas de meditação e conselhos de mestres Zen. Mestres espirituais levam vidas inteiras dominando a mente para atingir um estado de ócio contemplativo livre das preocupações mundanas e perfeita comunhão com a natureza que o cerca. Algo que qualquer vaca faz sem nenhum esforço enquanto pasta. Damos uma longa volta para chegarmos onde já estaríamos se não fosse nossa dita "excepcional" capacidade de pensar e questionar sobre tudo em busca de respostas. Nossa celebrada capacidade intelectual seria uma dádiva ou um castigo? Qual a utilidade dela além de buscar respostas que não existe, criar objetos que não precisamos, fazer cálculos que não nos interessam e tentar entender um Deus que não é inteligível por viais racionais? Temos um órgão que nos afasta da essência da vida. Um castigo que os animais não precisam carregar. Uma involução de nossa espécie.
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