Kabir
fala apenas sobre o que ele viveu. Se você não viveu algo, o que diz não é a
verdade. Eu tenho pensado na diferença entre a água e as ondas que nela se
formam.
Subindo,
a água ainda é água, caindo, ela é água.
Você
daria alguma sugestão sobre como falar delas separadamente?
Vá para o mar e veja as ondas subindo.
As ondas estão separadas do oceano? Alguém alguma vez viu uma onda se separar
do oceano? Alguém alguma vez viu o oceano sem ondas? Eles estão juntos. Na
realidade, dizer “juntos” não está certo, porque eles são um. O que é uma onda? - um oceano em movimento. E o que é o oceano? Todas as ondas juntas, todas
ondulando. Ondular é um aspecto da realidade do oceano.
Mas, perceba... As palavras criam a
separação. Quando você diz “a onda”, “o oceano”, há uma diferença. Se você
olhar no dicionário elas estão separadas. O dicionário tem que manter as
palavras separadas, caso contrário haverá uma grande confusão. Mas apenas as
palavras estão separadas; na realidade, nada está separado.
A árvore está separada, a terra está
separada, mas, na verdade, a árvore nunca está separada da terra e a terra
nunca está separada da árvore. Em palavras, o céu está separado da terra, mas,
de fato, eles estão juntos. A realidade é uma união. Todas as coisas estão
unidas, interligadas, entrelaçadas, associadas uma com as outras.
Se você puder entender uma única flor
em sua totalidade, raiz e tudo, terá entendido todas as estrelas e todos os
sóis e todas as luas e todos os homens e todas as mulheres e todas as terras e
todos os planetas... Porque, quando você se envolve mais e mais profundamente,
descobrirá que em uma única flor, o todo está envolvido. Não é possível
entende-la separadamente. Sem a terra, o que ela é? E sem o sol, o que ela é? Não haverá cor sem o sol; sem a terra não haverá forma.
E quem sabe quantas coisas mais estão
envolvidas nisso? Sem as estrelas, talvez as rosas não fossem as mesmas. Quem
sabe que pulsações as rosas obtém das estrelas? E, por certo, sem o olho
humano, a rosa não seria a mesma. Não teria cor, porque a cor está vinculada ao
olho. Quando há um olho há cor; sem olho, não há cor alguma.
Quando você vai até as cataratas do
Niágara e ouve aquele estrondoso som, ele não estava ali, começou a existir no
momento em que você chegou até lá – porque sem ouvidos não há som. Se não
houver ninguém ao redor das cataratas do Niágara não há som algum, a água cai
silenciosamente. Pois, como o som pode ser criado sem ouvido? O ouvido é um
imperativo.
A vida está tão entrelaçada... Tudo
faz parte de tudo o mais. Apenas em palavras as coisas existem; na verdade,
nenhuma “coisa” existe. Tudo está junto, é uma coisa só.
É bom que Buda chame isso de “nada”,
porque nenhuma coisa existe. Você não pode chamar isso daquilo que é, tudo está
junto. Os homens, as mulheres, os animais, os pássaros, as árvores, as
montanhas, as estrelas – tudo é um.
Eu
tenho pensado na diferença entre a água e as ondas que nela se formam.
Subindo,
a água ainda é água, caindo, ela é água.
Você
daria alguma sugestão sobre como falar delas separadamente? Porque alguém
inventou a palavra “onda”, devo distingui-la de “água”?
Tome cuidado com a linguagem. A linguagem cria muita ilusão,
muitos enganos, e você pode ficar preso neles. É por isso que todos os grandes
místicos do mundo insistem que a realidade é conhecida em silêncio. Só quando
você desistiu completamente da linguagem é que a realidade é conhecida – porque
a linguagem cria barreiras.
Ótimo texto! Percebo que enquanto estamos atento às pessoas, estamos conectados, e aí quando falamos a linguagem muitas vezes não expressa o que sentimos e cria divisão.
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