2 de ago. de 2012

Um casamento com o Tao I



Hoje vamos falar um pouco sobre o Zen.
O gênio indiano alcançou seu apogeu em Gautama Buda e o gênio chinês alcançou seu apogeu em Lao Tzu. Desse encontro nasceu o Zen.
Quando um mestre Zen fala, ele está dizendo aquilo que ficou sabendo e gostaria de compartilhar com você.
Não é para convencê-lo, lembre-se – é apenas para dividir com você.
Se você for capaz de entender uma única palavra dele, vai sentir um enorme silêncio sendo liberado dentro de você.
E se você estiver pronto, pronto para ser o solo, então essas palavras tremendamente poderosas – essas sementes vivas – entrarão em seu coração e, por meio delas, você será totalmente diferente.
Por isso, enquanto escuta, não tente interpretar. Não ouça as palavras, mas os vazios entre as linhas...
Por exemplo: quando você vai até uma cachoeira e senta-se perto dela, você a escuta, fica em silêncio, imóvel... Você deixa que a cachoeira entre cada vez mais fundo em você.
Então, por dentro, tudo fica calmo e quieto. Você se torna um templo – o desconhecido entra por meio da cachoeira.
Portanto ouça, mas não pense. E então é possível que muita coisa aconteça dentro de você.

O mestre diz:
O Grande caminho não é difícil para aqueles que não têm preferências.

Perceba... Se ele parece difícil, é você quem o faz difícil. As pessoas o fazem difícil, a mente o torna difícil – e o truque para tornar difícil qualquer coisa fácil é escolher, fazer a distinção.
O amor é fácil, o ódio é fácil, mas você escolhe. Diz: “Só vou amar, não vou odiar”. Agora tudo ficou difícil. Agora você não vai nem mesmo conseguir amar!
A vida é fácil se você não escolhe, porque então você sabe que inspirar e expirar não são duas coisas opostas, são duas partes de um processo.
Se você escolher, ficará em dificuldade. Se não escolher tudo é fácil.
A vida é um equilíbrio entre rejeitar e atrair. Você é apenas uma passagem. Compartilhe! Dê, e mais lhe será dado. Seja sovina, não dê, e menos será dado a você.

E o mestre prossegue...
Quando o amor e o ódio estão ausentes, tudo fica claro e evidente.

O amor e o ódio falseiam seus olhos e então você não pode ver claramente. Se você ama uma pessoa, começa a ver coisas que não estão lá.
Nenhuma mulher ou homem é tão bonito quanto você pensa que ele é quando o ama, porque você faz uma projeção.
Você tem uma pessoa dos sonhos na cabeça e é essa pessoa dos sonhos que é projetada.
De alguma forma, a pessoa verdadeira funciona apenas como uma tela.
É por isso que todo o amor acaba em frustração mais cedo ou mais tarde, porque de que modo pode a pessoa continuar fazendo o papel de tela? Ela é uma pessoa de verdade. Por quanto tempo ela vai continuar se ajustando á sua projeção?
Ninguém pode servir de tela para você para sempre porque é desconfortável. Como pode alguém se ajustar ao seu sonho? Todos têm sua própria realidade.
No amor a pessoa se torna um deus, no ódio a pessoa se torna um demônio – e a pessoa não é nem um deus nem um demônio, a pessoa é simplesmente ela mesma.
Esses demônios e deuses são projeções. Se você ama, não consegue enxergar claramente. Se você odeia, não consegue ver com clareza.
Quando não existe o gostar nem o desgostar, seus olhos ficam limpos, você tem clareza.
Então você vê o outro como ele é. E quando você tem clareza mental, toda a existência revela sua realidade para você. Essa realidade é divina, essa realidade é verdadeira.
O que isso significa? Que uma pessoa não vai amar? Não! Mas seu amor vai ter uma qualidade completamente diferente, não vai ser como o seu.
Ela vai amar, mas o amor dela não será uma escolha. Ela vai amar, mas seu amor não vai ser uma projeção. Ela vai amar, mas seu amor não será um amor por seu próprio sonho. Ela vai amar o verdadeiro.
As pessoas estão confundindo sexo com amor...
E esse amor pelo verdadeiro é compreensão e ternura. Ele não vai projetar isso ou aquilo. Vai apenas ver você. Ele vai compartilhar com você porque ele tem bastante – e quanto mais se compartilha algo, mais isso aumenta. Ele vai dividir seu êxtase com você.
Tente perceber... Quando você ama você projeta. Você não gosta de dar, você gosta de tomar, gosta de explorar.
Quando você ama uma pessoa começa a tentar ajustar a pessoa às suas ideias. Todos os maridos estão fazendo isso, todas as mulheres estão fazendo isso, todos os amigos.
Eles seguem tentando mudar o outro, o real – e como o real não pode ser mudado, eles só vão conseguir se frustrar.
O real não pode ser mudado, somente seu sonho será destruído e você vai se sentir ferido – você não presta atenção à realidade.
Ninguém está aqui para preencher seu sonho. Todos estão aqui para cumprir seu próprio destino, sua própria realidade.
O amor verdadeiro não é uma exploração. A pessoa ama porque ela tem tanto, que está transbordando. Ela não está criando nenhum sonho em torno de ninguém. Ela compartilha com quem quer que surja em seu caminho – seu amor é incondicional, ela não espera nada de ninguém.
Se o amor esperar alguma coisa, então haverá frustração. Se o amor esperar alguma coisa, então insatisfação. Se o amor esperar alguma coisa, então haverá sofrimento e raiva.
Não! Nem amor nem ódio. Apenas olhe a realidade do outro.
Esse é o amor de Buda: enxergar a realidade do outro – não a projeção, não o sonho, não criar uma imagem, não tentar ajustar o outro à sua imagem.
Por alguns instantes simplesmente penetre o silêncio...

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