4 de set. de 2011

E ficamos enamorados I

O ser humano pode viver de duas maneiras: a natural e a não natural.
A não natural exerce grande atração, pois é nova, não familiar e aventureira.
Jean-Paul Sartre disse: “o ser humano está condenado a ser livre”.
Este é o êxtase e a agonia do ser humano, porque com a liberdade, surge a escolha – a escolha natural ou não.
A primeira coisa a ser entendida é: o ser humano pode escolher. Ele é o único animal na existência que pode escolher, que pode fazer coisas que não são naturais – que podem ir contra ele mesmo, que pode destruir a si mesmo e toda a sua bem aventurança – que pode criar o inferno.
Quando digo que a pessoa pode viver naturalmente, quero dizer que ela pode viver sem aperfeiçoar a si mesma; a pessoa pode viver com confiança – e natureza é isso.
A pessoa pode viver com espontaneidade, sem ser um autor.
Natureza significa que não é para você fazer coisa alguma. Os rios estão fluindo – não que eles estejam fazendo algo. E as árvores estão crescendo – não que elas devam se preocupar com isso, pensar e planejar sobre flores, sua cor, sua forma... Tudo está acontecendo.
A criança que cresce no útero da mãe não está fazendo coisa alguma. E estão ocorrendo milhões de coisas. A criança não está sentada naquela pequena célula, pensando, planejando, se preocupando e sofrendo de insônia. Não há ninguém.
Entender isso é entender Buda – que coisas podem ocorrer sem você jamais se preocupar com elas As coisas já estão acontecendo, sempre. E, mesmo quando você se torna um autor, isso se passa apenas na superfície; no fundo as coisas continuam a acontecer.
Quando você está dormindo profundamente, acha que está tentando respirar? A respiração está acontecendo. E se você tivesse que ficar constantemente consciente do ato de respirar, ninguém jamais seria capaz de viver, nem mesmo por um único dia.
Você se alimenta e esquece completamente a comida e milhões de coisas estão acontecendo: o alimento está sendo digerido, alterado e transformado quimicamente. Ele se tornará seu sangue, seus ossos, sua medula.
Perceba... Quanto está acontecendo dentro de você sem absolutamente você querer fazer?
O fazer permanece na superfície. O ser humano pode viver na superfície numa maneira artificial, mas no fundo, no âmago, você é sempre natural.
Sua artificialidade se torna simplesmente uma camada sobre a sua natureza. Porém, a camada se espessa a cada dia – mais pensamentos, mais planos, mais atividades, mais fazer. Mais do autor, o ego... E cresce uma casca.
O fenômeno do autor, do ego faz com que você perca a natureza, com que você vá contra ela, se afaste dela.
Um dia você se afastou tanto que surge a esquizofrenia em seu ser. Sua circunferência começa a se desconectar do centro.
Esse é o ponto onde você começa a pensar: Quem sou eu? O ponto onde você começa a olhar pra trás: De onde estou vindo? Qual a minha face original? Qual é a minha natureza? Você se distanciou tanto que agora é hora de voltar.
Todas as neuroses nada mais são do que isso – o seu afastamento do seu próprio centro, e é por essa razão que a própria psicologia não pode curar a neurose.
Ela pode lhe dar belas explicações a esse respeito, confortá-lo, ensinar-lhe como viver com sua neurose, ajudá-lo a não se preocupar muito com ela, dar-lhe um padrão de vida no qual tanto a neurose quanto você possa existir.
E, a menos que a psicologia dê o salto quântico e se torne religião, ela permanecerá parcial.
A religião pode curar a neurose porque ela pode torná-lo um todo. A circunferência não está mais contra o centro do seu ser: eles estão de mãos dadas e se abraçando - eles são um. Essa é a saúde real – a inteireza, a santidade...
E a menos que você seja um ser desperto – Um Buda, você permanecerá insano.
Você já observou? Todo mundo está com medo de enlouquecer. A pessoa se mantém sob controle, mas o medo está sempre presente: qualquer pequena coisa, a gota d’água – o banco entra em falência, sua esposa vai embora com outra pessoa, o negócio não anda – e você não é mais são, toda a sanidade se foi. Essa sanidade que se vai tão facilmente deve ter sido apenas uma fachada, na verdade ela não existia.
A menos que você se torne um Buda, um Cristo, ou um Krishna – todos esses são nomes do mesmo estado de consciência, no qual o centro e a circunferência funcionam numa dança, numa sinfonia -, a menos que surja a sinfonia, você continuará a ser um impostor, falso, arbitrário.

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