3 de jan. de 2017

Tudo mentiras e absurdos I


Relaxe seus olhos... Observe sua respiração...
Mova sua atenção pelo corpo – parte por parte, pedaço por pedaço -, e percebendo alguma tensão, respire nesses pontos e simplesmente solte tudo - relaxe.

Descobrir sua verdadeira natureza, entrar em contato com sua essência, descobrir a verdade, não é uma mercadoria desejada pelas pessoas. Elas acham que já a conhecem e, mesmo se acharem que não a conhecem, elas pensam: “Quem precisa delas”? Suas necessidades são por mais magia, ilusões e sonhos em suas vidas.
Descobrir a própria essência não interessa as pessoas. No momento em que uma pessoa se torna interessada pela verdade, ela não é mais parte da massa – ela se torna um indivíduo. Do contrário, ela permanece parte da multidão e não existe realmente. Mas a busca é árdua, e ela necessita de coragem, de inteligência e de consciência.

Em uma passagem, Buda afirma não haver objetivo na vida – nada a ser alcançado externamente – deixe isso penetrar em seu coração. Não há objetivo na vida.
O objetivo não existe, ele é imaginário, é sua criação. Você cria o objetivo, então você cria a virtude e o pecado e, então, a humanidade é dividida em santos e pecadores. Aqueles que estão se movendo em direção aos objetivos são virtuosos e aqueles que não estão se movendo em direção aos objetivos são pecadores. Abandone o objetivo, e os santos, os pecadores, as divisões, o mais elevado, o mais baixo desaparecerão e não haverá céu ou inferno.
Perceba a importância disso! A ideia do objetivo cria o céu e o inferno. Aqueles que estão se movendo em direção ao objetivo, as pessoas obedientes e boas, serão recompensados com o céu. E aqueles que não estão indo em direção ao objetivo, os pecadores, as pessoas más, serão punidos com o inferno.
Perceba... Primeiro você cria o objetivo e então tudo segue... então são criados o céu e o inferno, os santos e pecadores, o medo de perder o objetivo e o ego de atingir o objetivo. Você criou toda confusão, toda neurose da mente.
Buda vem e ataca a própria raiz da confusão: ele diz que não há objetivo. Apenas esta simples afirmação pode se tornar uma força libertadora: não há objetivo. Então a pessoa não está indo a lugar algum e está sempre aqui; ela nunca está indo a lugar algum, não há lugar para se ir e ninguém para ir. Tudo sempre esteve aqui e sempre esteve disponível.
O objetivo significa futuro; portanto você começará a ficar mais interessado no futuro e a se esquecer do presente. O objetivo cria tensão, angústia, medo – “vou consegui-lo ou não?” -, cria competição, inveja, conflito e hierarquia. Aqueles que estão se aproximando do objetivo são superiores e os que não estão são inferiores.
O entendimento de Buda é completamente diferente. Ele diz: “A vida em si mesma é seu próprio sentido”. Você não precisa criar qualquer outro sentido, e todos os sentidos criados se tornarão apenas fontes de ansiedade. A rosa que desabrocha no jardim não está desabrochando por algo mais! E o rio que flui para o oceano não está fluindo por algo mais - o fluxo é a alegria, o florescimento é a celebração.
Quando você fica muito orientado pelo futuro, começa a se esquecer do presente, o qual é a única realidade.
Os pássaros cantando, este momento!... Este aqui e agora... Tudo isso é esquecido quando você começa a pensar em termos de alcançar algo. Quando surge a mente conquistadora, você perde o contato com o paraíso em que você está.
Esta é uma das abordagens mais libertadoras: ela libera você agora mesmo! Esqueça-se de tudo sobre pecado e santidade; ambos são estúpidos, ambos destruíram todas as alegrias da humanidade. O pecador está se sentindo culpado, daí sua alegria ser perdida. Como você pode desfrutar da vida se está continuamente se sentindo culpado; como pode desfrutar da vida, se você está indo continuamente à igreja para confessar que fez isso e aquilo de errado¿ E errado, errado, errado... Toda sua vida parece ter sido feita de pecados. Como você pode viver com alegria?
Torna-se impossível ter deleite na vida. Você fica pesado e carregado. A culpa se aloja em seu peito como uma rocha e o esmaga; ela não permite que você dance. Como a culpa pode dançar, cantar, amar e viver?
E a pessoa que acha que é santa também não pode viver e se deleitar, pois ela está com medo: se ele tiver deleite, poderá perder a sua santidade; se ela rir, poderá cair de sua posição. A risada é mundana e a alegria é comum – o santo precisa ser sério, e ter uma face triste. Ele não pode segurar a mão de alguém, pois pode se apaixonar e surgir o apego. Ele não pode relaxar, pois, se o fizer, seus desejos reprimidos começarão a emergir. Um santo não pode relaxar; e se não pode relaxar como pode desfrutar e celebrar?
O pecador perde devido a culpa e o santo perde devido ao ego – ambos são perdedores. Objetivos são criadores de infelicidade.
A mente conquistadora é a fonte original de todas as enfermidades, de todas as doenças.

Buda diz: “Não há lugar para se ir – relaxe”.
No fundo, você é apenas um bambu oco, e a existência flui através de você por nada além do puro deleite de fluir.
Observe as rosas, a grama, os rios e as montanhas, viva com a natureza, e lentamente você perceberá que nada está indo a lugar algum. Tudo está se movendo, mas não para alguma direção e objetivos.
Dissolva as metas, os objetivos.  Nesse silêncio, a vida se torna a única escritura e se torna tudo que existe.
Viva e saiba, viva e sinta, viva e seja.

Texto publicado em junho de 2011 e modificado em janeiro de 2017

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