14 de out. de 2016

Entregue-se ao que é II


“Destrua o desejo de conforto, o desejo de felicidade. Destrua-o”.

Isso parece muito melancólico, triste, negativo. Não é. Quanto mais você desejar conforto pra você, mais desconforto sentirá. Quanto mais você desejar conforto, mais desconforto estará criando para si mesmo, porque o desconforto é proporcional ao desejo de conforto.
Quanto mais você procurar a felicidade, tanto mais sofrerá. O sofrimento é uma sombra. Quanto maior o desejo de felicidade, maior será a sua sombra. Procure felicidade e você nunca a obterá. Somente sentirá frustração. Por quê? Porque há apenas um modo de ser feliz, que é ser feliz aqui e agora. A felicidade não é o resultado final. É um modo de vida.
A felicidade não é o resultado final do desejo. É uma atitude, não um desejo. Você pode ser feliz aqui e agora se souber como ser feliz. A felicidade é uma arte. É um modo de vida.
Nesse exato momento, se você puder permanecer calado e consciente da vida ao seu redor e no seu interior, você será feliz. Os pássaros estão cantando, o vento está soprando. As árvores estão felizes, o céu está feliz, todas as coisas existentes estão felizes, exceto você. A existência é felicidade, uma celebração eterna, uma festividade. Olhe para a existência! Cada árvore está em festa, cada pássaro está em festa. Exceto o homem, tudo está em festa. Toda a existência é um festival, um constante e contínuo festival. Nenhuma tristeza, nenhuma morte, nenhuma miséria existe em lugar nenhum, a não ser na mente humana. Algo está errado com a mente humana, não com a existência.

Por que o homem é infeliz?
Nenhum animal é tão infeliz, nenhum pássaro é tão infeliz, nenhum peixe é tão infeliz quanto o homem. Por que o homem é tão infeliz? Porque o homem deseja a felicidade, mas os pássaros estão felizes nesse exato momento; as árvores estão felizes nesse exato momento. O homem deseja a felicidade; ele nunca está feliz no momento presente. Ele sempre deseja a felicidade e continua a perdê-la. A felicidade está aqui. Ela está acontecendo ao seu redor. Permita que ela entre em você.
Faça parte da existência. Não se mova para o futuro atrás da felicidade. A existência nunca se move para o futuro; apenas a mente se move.
É isso que chamo de meditação: estar aqui, sem se mover para o futuro. Não seja ambicioso, destrua todo o desejo pela vida, não deseje a felicidade, e então, você será feliz e ninguém poderá destruir a sua felicidade. Então você será imortal e a vida eterna terá acontecido. Na verdade, ela já aconteceu, mas você não está consciente da eternidade. Então você estará realizado. Sem ambição, você estará realizado.
Você é único. Toda experiência que é possível a alguém também é possível a você, mas acontecerá de um modo único. Aconteceu a Buda, aconteceu a Jesus, aconteceu a Zaratustra, e acontecerá a você também. Mas nunca acontece do mesmo modo. A essência da experiência do despertar será a mesma – a mesma bem aventurança, o mesmo silêncio, a mesma iluminação – mas na periferia tudo será diferente.
Portanto, não imite ninguém. Isso faz parte da ambição. Não imite Buda, não imite Jesus, não imite Krsna. Tente ser você mesmo. Ou melhor: seja você mesmo, pois tentar ainda é fútil. Quando você é você mesmo, está aberto a todas as responsabilidades. Quando você é você mesmo, toda a existência começa a ajudá-lo. Você não briga com ela.
Quando você não está em luta...  É isso o que significa confiar. Quando você não está em luta, a existência acontece a você. Se você está lutando contra a existência, está simplesmente se destruindo, destruindo suas possibilidades, sua energia de vida, sua existência. Não lute! Entregue-se à existência. Aceite a si mesmo, do modo que o Todo quer que você seja; não tente ser outra coisa, e o despertar da consciência pode acontecer a qualquer momento.

Pode acontecer neste exato momento; não é preciso esperar.

Texto publicado em maio de 2011 e modificado em outubro de 2016

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