1 de out. de 2016

O Buda do nariz preto


Um dos maiores problemas que todos aqueles que estão trilhando o caminho são obrigados a encarar é fazer uma clara distinção entre o amor e o apego. Eles parecem semelhantes, mas não são. O apego esconde a realidade que é o ódio com uma aparência de amor. Ele mata o amor. Nada pode ser mais venenoso do que o apego, do que a possessividade. Tente entender isso.
Isso tem acontecido a muitos e provavelmente está acontecendo a você – porque a mente confunde amor com apego. E aqueles que olham tudo pela aparência sempre são as vítimas: o apego é tomado como amor e, quando você toma o apego, a possessividade como amor, acaba sempre perdendo a realidade.
Possessividade, apego, é falso amor. O ódio é melhor porque, pelo menos, é verdadeiro, é um fato. O ódio pode tornar-se amor um dia, mas a possessividade nunca se torna amor. Você precisa simplesmente abandonar a possessividade para crescer no amor.
Por que o apego se parece com amor?
Amar significa estar pronto para mergulhar no outro. Não tem nenhum fim, é uma queda eterna dentro do outro. Nunca termina. Amar significa tornar o outro tão importante que você deixa de existir - é render-se incondicionalmente; Se houver qualquer condição, então você é o importante na relação, não o outro; você é o centro, não o outro. E, se você é o centro, então o outro é apenas um meio. Você utiliza o outro, explora, gratifica-se por meio do outro – mas você é a meta.
Todos os seus poemas, todas as suas canções sobre o amor são apenas substitutos para que você possa cantar sem penetrá-lo, para que você possa sentir que está amando sem amar. E o amor é uma necessidade tão profunda que você não pode viver sem ele: seja real ou falso. O substituto (o apego), pode ser falso, mas pelo menos, por algum tempo, lhe dá a sensação de que você está amando. Mas, cedo ou tarde, você compreende que ele é falso; então, não troca o falso amor pelo verdadeiro; troca de amante.
Quando você descobre que o amor é falso, estas são as duas possibilidades: mudar, abandonar o falso amor e torná-lo real; ou mudar de parceiro - você sempre sente que o outro o está decepcionando, não que você está se decepcionando.
Ninguém pode decepcioná-lo, exceto você mesmo... Mas você sente que o outro é o responsável: então muda de mulher, muda de marido, muda de Mestre, muda de Deus, muda de religião, muda de prece, vai a igreja em vez de ir à mesquita – perceba... Você muda o outro. Então, por algum tempo, você sente que está amando de novo, que está em prece. Mas, cedo ou tarde, o falso é novamente reconhecido – porque ele não pode satisfazer. Você pode enganar a si mesmo, mas por quanto tempo? Então, novamente você tem de mudar – o outro.
Quando você chega a compreender que o outro não é o problema, que o seu amor é falso – você fala muito nele, mas não faz nada para penetrá-lo – você fica assustado, com medo...
No amor, o outro se torna tão importante que você pode se dissolver; confia tanto no outro que não necessita ter a sua própria mente - pode coloca-la de lado. Você já não pensa mais em si mesmo. A confiança é tanta que já não há mais necessidade de pensar. O pensamento só é necessário quando existe a dúvida.
Quando a confiança existe, o ego não aparece. O amor é uma confiança, uma dissolução do ego. O outro se torna mais importante – sua própria vida, seu próprio ser.
Mas perceba... Em vez de amor, o ego lhe dá o apego, a possessividade. O amor diz: seja possuído; o ego diz: possua. O amor diz: dissolva-se no outro; e o ego diz: faça o outro render-se a você, force o outro a ser seu, não permita que o outro mova-se em liberdade; corte sua liberdade, transforme-o na sua sombra. O amor dá vida ao outro; o apego, a possessão, o mata, lhe tira a vida.
O homem tem medo da mulher por causa da experiência do amor.
Mediante o que chamam de amor, as pessoas se matam. Senão, por que este mundo tão feio? Há tantos amantes, todos o são: o marido diz que ama a esposa, a esposa diz que ama o marido; os pais amam os filhos, os filhos amam os pais, há amigos, há parentes – todos amam.
Todo mundo está amando... – tanto amor – e tanta feiura, tanta miséria, como pode? Em algum lugar, algo parece estar profundamente errado – e é na própria raiz. Isso não é amor!!! Se fosse amor, o medo desapareceria – quanto mais se ama menos se teme. Quando o amor realmente é total, não há medo. Mas na possessão o medo cresce cada vez mais porque quando você possui uma pessoa, sempre teme que ela o deixe – sempre há a dúvida. O marido sempre suspeita que a mulher ama outro. Eles se espionam e cortam a liberdade um do outro para que não haja possibilidades.
Porém, quando se corta a liberdade, a vida torna-se velha, morta. Tudo se torna chato, sem significado, entediante. E quanto mais isso ocorre, mais possessivo a pessoa fica; quando algo está escapando de suas mãos, você fica mais apegado, cria mais paredes, mais prisões...
E quanto mais prisões, menos vida existe. Então o amor diminui mais ainda e uma prisão maior é necessária; ciúmes contínuos e possessividade que o outro transforma-se apenas numa coisa. Quando o amor se transforma em frustração – e se transforma porque não é amor – então, pouco a pouco você começa a gostar de coisas. Olhe para as pessoas quando lustram (lavam) seus carros, o modo como olham pra eles – encantadas! Veja a luz romântica que vem às faces quando olham para seus carros - estão apaixonadas pelo carro.
Principalmente no Ocidente, onde o amor tem sido assassinado por completo, as pessoas amam coisas e animais: cães, gatos, casas, carros. É mais fácil amar uma coisa ou um animal; ele permanece fiel, não há perigo. Um marido é perigoso! Uma esposa é perigosa! A qualquer momento eles podem ir embora e nada pode ser feito. E quando isso ocorre todo seu ego fica despedaçado, você se sente ferido.
Essa é a miséria... Os amantes, os falsos amantes, na realidade são proprietários, não amantes.
O amor nunca pode ser possuído; é uma força vital, uma força infinita, e você tão insignificante. Ele não pode ser por sua própria natureza.
Somente em liberdade a vida e o amor existem.

Texto publicado em abril de 2011 e modificado em outubro de 2016

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