19 de set. de 2016

A resposta do homem morto


Nesse momento, procure deixar a mente racional, controladora pra trás... Procure cessar os movimentos da mente. E, assim, volte ao seu centro.

Mente é raciocínio. E por meio do raciocínio, você não pode sair da mente. Isso é o que você tem feito por muitas vidas. Você sente que está se movendo porque a mudança está presente, mas continua seguindo num círculo – não consegue sair da periferia.
Somente no centro do ser a pessoa pode ser autêntica, verdadeira. Na superfície são todos imitadores. E as pessoas são grandes imitadoras. É mais fácil imitar do que ser autêntico porque a imitação está apenas na superfície.
Já a autenticidade necessita de você em sua totalidade. E isso é demais pra você. A imitação é muito fácil: toda a cultura, toda a sociedade baseia-se nela.
Todos estão lhe dizendo como se comportar, e tudo que lhes ensinam não é nada mais que imitação. As pessoas chamadas de religiosas, os padres, os teólogos, os monges – também estão lhe ensinando: seja como Jesus, seja como Buda, seja como Krishna! Ninguém nunca diz: Seja somente você mesmo! Ninguém! Ninguém lhe permite ser você mesmo, ninguém lhe dá nenhuma liberdade. Você pode estar nesse mundo, mas deve imitar alguém.

Todo mundo tornou-se irreal, tornou-se ator. Ninguém é verdadeiro. É muito difícil encontrar um homem real. Se você puder encontra-lo, não o deixe. Fique perto dele, sua realidade torna-se infecciosa. Sua proximidade já será uma transformação para você. Isso é o que chamamos Satsang: estar perto de um homem verdadeiro, de um homem real, de um homem autêntico. Isso é o que chamamos de “associações saudáveis” – falamos nisso na aula passada. Estar perto de pessoas que estão sinceramente, verdadeiramente comprometidas com a compreensão... com a compaixão, com o amor. Quando nos cercamos dessas pessoas, somos nutridos por sua presença, e as sementes de amor e compaixão que carregamos em nossos corpos e mentes são regadas.

A sociedade fez de você um ator, um imitador. Você não é real, é falso. Nunca lhe foi permitido ser você mesmo, e isso é a única coisa que você pode ser. Mas a imitação permanecerá apenas na superfície. No íntimo, você permanecerá você mesmo. A falsidade que você coloca sobre si mesmo não pode se tornar o seu ser. Como poderia? Ela pode, no máximo, ser uma máscara, um gesto superficial.
A sociedade quer apenas que você seja uma sombra, não um homem real porque um homem real é perigoso.
Apenas sombras podem ser subjugadas, podem ser obedientes, podem seguir. Um homem real não diz sempre sim.
Desde o nascimento, nós treinamos as crianças para serem falsas. Isso é o que chamamos de caráter. Se elas se tornam falsas, irreais, nós a apreciamos, as premiamos com medalhas. A falsidade é chamada de real, ideal. E se uma criança se rebela, tenta ser ela mesma, torna-se uma criança problema. Precisa ser psicanalisada para que possam consertá-la – pois algo está errado com ela. Mas não há nada de errado, ela está simplesmente se afirmando. Está dizendo: “Deixem-me ser eu mesma”!

Uma pequena estória:
Um menininho estava assistindo a uma cerimônia de casamento pela primeira vez. Uma pessoa, um visitante, lhe perguntou: “Com quem e quando você gostaria de casar”?
E o menino respondeu: “Nunca! Eu não quero me casar”.
O homem ficou surpreso e perguntou: “Por quê?”
E o menino disse: “Eu já vivi demais com gente casada e eles são tão falsos!” e seus pais estavam lá. – e ele continuou: “Não quero me casar porque quero ser eu mesmo”.

Perceba: a esposa não permite que o marido seja ele mesmo. O marido não permite que a esposa seja ela mesma. Ninguém permite a ninguém ser ele mesmo, porque isso é considerado perigoso.
Então reprima! E a sociedade é reprimida. Se a sociedade é triste é natural – pessoas falsas não podem ser felizes. Podem ser, quando muito, tristes e deprimidas. Freud disse que não existe remédio para a humanidade, que não há esperança de felicidade. Ele está certo. Do jeito que a humanidade está indo, se continuar assim, somente um estado de tristeza, de depressão, de desespero será possível. Apenas um suportar a si mesmo de algum modo, como uma carga – sem dança, sem energia borbulhando, sem vitalidade, sem cantos, sem flores, sem nada – somente um arrastar-se por aí.

As pessoas falsas só podem ser assim mesmo. Quando essas pessoas ficam muito cansadas, muito enjoadas dessa assim chamada sociedade, elas vão a um mestre em busca de verdade. Lá também tentam suas velhas técnicas. Mas quando você vem a um mestre, quando a necessidade de conhecer o que é a realidade surge em você, a imitação não é permitida. Se você imitar, estará carregando seu velho padrão, seu velho modo de vida, e esse modo de vida se tornará a barreira.

Texto publicado em março de 2011 e modificado em setembro de 2016

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