1 de jun. de 2016

O riso


Por um momento observe toda sua seriedade.
Observe toda a tensão em seu rosto e procure relaxar...
Leve um suave sorriso para o seu ser interior. O riso foi perpetuado na tradição Zen, através do monge Mahakashyaupa. Em nenhuma outra tradição existe o riso. O riso parece tão irreligioso, tão profano, que não se pode pensar em Jesus rindo. Perceba, o riso tem sido negado e, por alguma razão, a tristeza tornou-se religiosa.
A saúde é irreligiosa (Count Keyserling / pensador alemão). A doença possui religiosidade porque uma pessoa doente é triste, sem desejos, não por ter se tornado sem desejos, mas porque é fraca. Uma pessoa sadia ri, quer ser feliz, divertir-se – não pode ser triste.
Por isso, as pessoas religiosas tentaram de muitas maneiras tornar você doente – faça jejum, reprima seu corpo, torture-se. Assim você será triste, suicida, atormentado.

Como você pode rir? O riso vem da saúde. É um transbordamento de energia. Por isso as crianças podem rir e seu riso é total. O corpo todo fica envolvido no riso. Quando as crianças riem, todo o seu corpo, cada célula, cada fibra, ri e vibra. Tudo é vital, cheio de saúde. Tudo flui.
Uma criança triste significa uma criança doente, e um velho rindo significa que ele ainda é jovem. Nem mesmo a morte pode torna-lo velho. O riso é uma energia transbordante...

Nos mosteiros Zen os monges estão sempre rindo, rindo e rindo. O riso tornou-se prece apenas no Zen, pois em uma manhã, na presença de Buda, há vinte e cinco séculos atrás, um monge chamado Mahakashyaupa deu uma nova direção, absolutamente nova – até então desconhecida – para a mente religiosa. Ele riu! Riu de toda a estupidez, de todo absurdo. E Buda não o condenou; ao contrário, o chamou, deu-lhe uma flor e falou à multidão.

E quando as pessoas ouviram aquele riso, devem ter pensado: “Esse homem ficou louco,. Ele não tem respeito por Buda”, pois como se pode rir diante de um Buda? Quando um Buda está sentado em silêncio, como você pode rir? A mente diz que isso é desrespeitoso.
A mente diz que isso é desrespeito. Ela tem suas próprias regras, mas o coração não as conhece. O coração pode rir e ser respeitoso, a mente não pode rir. Ela só pode ficar triste e, então, ser respeitosa. Mas que espécie de respeito é esse que não pode rir?

Em todo o mundo todas as religiões tornaram-se doentes, pois a tristeza tornou-se muito proeminente e os templos e igrejas parecem cemitérios. Não parecem festivos, não dão uma sensação de festa. Se você entra numa igreja, o que vê ali? Vê morte e não vida. Jesus crucificado completa toda tristeza do lugar.

Às vezes pode-se cantar numa igreja, mas é um canto triste, e as pessoas fazem isso com caras sérias e tristes.
Não é à toa que quase ninguém quer ir à igreja – é apenas uma obrigação social a ser cumprida. A religião tornou-se uma coisa de domingo. Por uma hora você pode suportar ficar triste.

Mas desde esse riso na presença de Buda, há 25 séculos, que o riso carrega em si muitas dimensões. Uma dimensão foi a da estupidez de toda a situação, de Buda calado e ninguém entendendo nada, esperando que ele falasse.
Durante toda a sua vida, Buda sempre disse que a Verdade – o despertar espiritual – não pode ser transmitido através das palavras. E mesmo assim, todos esperavam que ele falasse.
A segunda dimensão foi que Mahakashyaupa riu de toda a situação dramática que Buda criou, sentado ali com uma flor na mão, olhando para a flor, criando tanto incômodo e agitação nas pessoas. Ele riu desse gesto dramático de Buda.
A terceira dimensão foi que ele também riu de si mesmo. Por que não havia compreendido até agora? Tudo era tão fácil e simples. No dia em que você compreender, também vai rir, pois não há nada a ser entendido. Tudo sempre foi claro e simples. Como você não percebeu?
Com Buda sentado em silêncio, os pássaros cantando nas árvores, a brisa soprando, e todos inquietos, o monge compreendeu e riu.
Mas o que ele compreendeu? Compreendeu que não há nada a ser compreendido, nada a ser dito, nada a ser explicado. Toda a situação é simples e transparente. Não há necessidade de buscar, pois tudo que existe está aqui e agora, dentro de você. Dentro de você, você tem tudo e está procurando por toda a parte.

Então, o monge riu de si mesmo, de todo o esforço absurdo de muitas vidas apenas para entender esse silêncio... O silêncio de todos os seus pensamentos. (Tocar o sino)

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