28 de jun. de 2016

Semeando


Respire suave e profundamente algumas vezes.
E lentamente, com plena atenção em sua respiração, procure sair da superfície, transcendendo o mundo das palavras, o mundo das formas, transcendendo o mundo dos fenômenos...
E mergulhe cada vez mais e mais fundo no solo da ausência da mente.

O solo da ausência da mente contém muitas sementes, que se transformarão na flor do silêncio quando as chuvas de profunda paz vierem... Sem necessidade de perguntas ou respostas...

Ao se estabelecer no silêncio você transcende o mundo dos fenômenos...
Você também é uma semente. Se você permanecer fechado, a responsabilidade é sua. Então jamais você conhecerá a sua natureza de Buda (de Ser desperto). Um pouco de coragem, um pouco de abertura, uma pequena morte da casca da semente e a consciência começa a germinar em você.
E as chuvas estão aí. As nuvens estão passando diante de seus olhos. As nuvens estão perto... Mas uma coisa estranha, quanto mais perto estão as nuvens, mais a semente fica com medo. Com medo do desconhecido, com medo do... Nunca se sabe como será lá fora. Oculta dentro da casca a semente se sente mais protegida.
No caminho do Zen, você precisa aprender estas importantes palavras: abertura e alegria na insegurança – um desafio do desconhecido precisa sempre ser bem vindo. Esta é a maneira do crescimento.
A maioria das pessoas do mundo, a quem Reich chamou de “pequenos homens”, morre como “pequenos homens”, embora seus destinos não fossem de “pequenos homens”. Oculto no “pequeno homem” está o maior dos Budas. O pequeno homem é um buda, profundamente oculto como uma semente.
Mas a maioria das pessoas é receosa do desconhecido, receosa de perder a segurança e a proteção da conta bancária.

Nesse ponto de nosso estudo, a primeira coisa a ser compreendida é o significado de Dharma. A palavra do Páli que Buda usava era Dhamma, e foi erroneamente traduzida pelos teólogos como “religião”, e pelos eruditos foi traduzida como “lei”, a lei suprema. Ambos não compreenderam.
Dharma não é religião. Na verdade, se você for às raízes das palavras, religião significa aquilo que o prende e dharma significa aquilo que liberta. Elas são absolutamente contrárias uma a outra. Dharma simplesmente significa sua natureza intrínseca. Você próprio tem que encontrá-lo. Esta é uma grande dignidade, conferida ao indivíduo pela existência, a de que você não precisa viver de conhecimentos emprestados. A fonte viva da vida está simplesmente fluindo nas proximidades. Por que não beber e se saciar?

Quanto mais fundo você for em suas meditações, mais perto estará do eterno fluxo de suas fontes de vida. O dharma é puro néctar, pois declara a sua imortalidade, a sua eternidade. Ele declara que a morte é uma ficção; ela nunca aconteceu e jamais acontecerá a alguém. Simplesmente muda-se de casa, entra-se numa outra forma, ou talvez na existência sem forma.

Sentir como bebendo o mais fino néctar ao meditar, mostra sua tremenda compreensão. E você pode ser muito novo, muito jovem em meditação. Mas idade não tem nada a ver com realização. Não se trata de que ao envelhecer você será capaz de com facilidade se tornar um buda (um ser desperto). Pelo contrário, quanto mais velho você fica, mais difícil se torna pra você abandonar seus hábitos, conceitos, ideologias de toda uma vida.
Quando você fica velho, torna-se muito difícil mudar sua crença de toda uma vida. Elas se tornam mais rígidas. O velho se torna rígido, e da mesma maneira tudo à sua volta se torna rígido.

A religião autêntica precisa depender da juventude, porque a juventude tem uma certa rebeldia natural a ela. Um jovem pode ser rebelar contra todo o passado, sem qualquer culpa. Ele pode limpar seu coração de todas as escrituras e estátuas mortas, e o desafio do desconhecido agita seu coração. Ele deseja aceitar o maior dos desafios, e este é o maior desafio da vida – permitir  à sua semente abrir-se aos céus, aos ventos, ao sol, à chuva; nunca se sabe o que irá acontecer.
Não existe ninguém para guiar a semente, não há escrituras para a semente ler. A semente está tomando o risco de pôr-se para fora, e você deve compreender que o risco não é pequeno. O risco é exatamente uma morte. A semente precisa morrer no solo; somente então brotos da potencialidade da semente começarão a crescer. Talvez ela se torne uma rosa, ou um lótus, ou algum outro tipo de flor. Não importa. O que importa é o florescer e não o nome da flor. É desfrutar a alegria de crescer e ver com seus próprios olhos o que estava oculto em suas sementes.
Apenas uma única semente pode preencher a terra inteira com um verdor absoluto. Tal é a imensa possibilidade de uma pequena semente! E você é uma semente viva, consciente. A coisa mais preciosa da existência está dentro de você: a consciência. A semente está tateando no escuro e ainda assim encontra o caminho. E você é consciente, você tem uma pequena luz, mas não se move de sua posição; você permanece um pequeno homem. Na verdade você odeia todos aqueles que foram até a outra margem, pois o ir deles condena você, que você falhou em satisfazer seu próprio destino.


A menos que você entre em harmonia com a existência, em completo silêncio, você não pode conhecer o dharma - a sua verdadeira natureza – o próprio princípio da vida e da existência.

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