17 de dez. de 2015

Esvazie sua xícara


Certa vez um mestre zen japonês concedeu uma audiência a um professor de filosofia.
Ao servir o chá, o mestre (Nan in) encheu a xícara de seu visitante, mas continuou despejando o chá sem parar.
O professor ficou observando o transbordamento até não poder mais se conter. Pare! A xícara está mais do que cheia, nada mais cabe aí.
E o mestre disse: Como esta xícara, você também está cheio de opiniões e ideias. Como posso lhe mostrar o zen, sem que você antes esvazie a sua xícara?

Procure observar a respiração e simplesmente observando a respiração permita-se esvaziar a sua xícara, a sua mente... Perceba... Não apenas aquele homem era um professor de filosofia. Você também é. Cada um carrega a sua filosofia; cada um é um professor à sua maneira, pois você professa suas ideias, acredita nelas. Você tem opiniões, conceitos.
E por causa de suas opiniões e conceitos, seus olhos estão embaçados, não podem ver; Ideias criam estupidez, pois quanto mais ideias existem, mais a mente está carregada. Quanto mais ideias existem, mais elas se tornam como poeiras que se acumulam sobre um espelho. E se você acumula poeira, a mente torna-se estúpida e embaçada.

Você sabe demais para realmente saber alguma coisa

A maioria das pessoas está tão sobrecarregada que não pode voar pelo céu – não pode ter asas. As pessoas estão demais em suas mentes e também não podem ter raízes na terra.
As pessoas que estão cheias de perguntas estão sempre procurando respostas. É tolice preocupar-se com perguntas e respostas.
Se você puder preservar sua infância, se puder recuperá-la continuamente, você permanecerá inocente e inteligente.
Uma mente religiosa é inocente, inteligente. O espelho está claro e limpo. O pó não se acumulou. E todos os dias uma limpeza está sendo feita. É isso que chamo meditação. E meditação significa a maneira de você se esvaziar.

Mas a mente está sempre apressada, sempre procurando realizações instantâneas. Para a mente é muito difícil esperar. Se eu convido você a sentar, silenciar e esperar, você começa a ferver que nem a água da chaleira, fazendo ainda mais barulho dentro, tagarelando, falando sem parar. E você está tão cheio que nada pode penetrá-lo.

Por compaixão, um Buda um Cristo, sempre quer se tornar um hóspede dentro de você. Ele bate, mas não há porta. E mesmo que ele arrombe uma parede, o que é muito difícil, não há lugar. Você está tão cheio de si mesmo, tão cheio de lixo e de todos os tipos de parafernália – acumulados durante muitas vidas – que não há lugar, não há espaço. Você vive fora de seu próprio ser, fica apenas na superfície - não pode entrar em você mesmo. Tudo está bloqueado. Você está transbordando com opiniões, filosofias, doutrinas e escrituras. Você já sabe demais. Você precisa se esvaziar um pouco...

Em minhas aulas, o que faço é convidar você para vir aqui, quebrar completamente essa xícara, de modo que, mesmo que você queira não a possa preencher.
Mas você está tão viciado, ficou tão habituado, que não deixa sua mente ficar vazia nem por um momento. Assim que você vê vazio em qualquer lugar, começa a preenchê-lo. Você tem tanto pavor do vazio, tanto medo do silêncio que irá preenchê-lo com qualquer porcaria. E muito é possível se você permite, mas permitir é difícil, pois para permitir você terá de se render - vazio significa rendição.

Muitos de vocês estão aqui, mas eu conheço a pergunta, pois no fundo, a pergunta é uma só – a ansiedade, a angústia, a falta de sentido, a futilidade de toda esta vida, sem saber quem você é. Deixe-me quebrar esta xícara... Se você estiver pronto para se render e ser destruído, algo de novo surgirá. Toda destruição pode se tornar um nascimento criativo.

Haverá sofrimento, pois nenhum nascimento é possível sem sofrimento. Muita angústia surgirá, pois você a tem acumulado, e ela tem de ser descarregada. Uma purificação e catarses profundas serão necessárias.
Por isso não tente escapar do sofrimento – esse é o ponto onde você pode pôr tudo a perder. Passe pelo sofrimento. O sofrimento queimará você e irá destruir todo o lixo que você acumulou. A partir da escuridão do sofrimento, uma nova manhã começa.
E não se preocupe, pois o que pode ser destruído é algo que não é você. Então, nesse momento, esvazie a sua mente... O ego está aí, transbordando. E quando o ego está transbordando, nada pode ser feito. A existência inteira está ao seu redor, mas nada pode ser feito. O Divino não pode penetrar em você por lugar algum. Você criou uma fortaleza.

Então morra, morra cada vez mais fundo para o seu ego, morra para todas as suas máscaras, morra para toda a sua estupidez, morra para toda a sua mediocridade.

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