16 de mar. de 2014

Você ainda a está carregando?


Há uma história Zen sobre dois monges que estavam retornando ao mosteiro deles.
Enquanto caminhavam, o monge mais velho chegou a um rio. Na margem, havia uma bela jovem que temia atravessar o rio sozinha. O monge afastou rapidamente os olhos da moça e atravessou o rio.
Quando chegou ao outro lado, olhou para trás e ficou horrorizado ao ver o monge mais jovem carregando a moça nos ombros através do rio. Os dois monges continuaram a viagem lado a lado. Quando estavam diante da porta do mosteiro, o mais velho disse ao outro: Aquilo não foi bom, é contra as regras. Sabemos que os monges não devem tocar numa mulher.
O mais jovem respondeu: eu a deixei na margem do rio. Você ainda a está carregando?

Perceba... O homem é o único ser capaz de reprimir suas energias ou capaz de transformá-las. Nenhum outro ser é capaz disso.
A repressão e a transformação existem como dois aspectos de um fenômeno. E o fenômeno é este: o homem pode fazer as coisas por si mesmo. O homem pode agir. Pode fazer alguma coisa por si mesmo. Pode observar-se à distância – pode olhar para a sua própria energia como se estivesse separado dela. E então pode reprimi-la ou transformá-la. Reprimir significa apenas tentar ocultar certas energias que existem, impedindo-as de ser, impedindo-as de se manifestar. Transformar significa mudar as energias para uma outra dimensão.
Agora, a estória. O velho monge disse ao mais jovem: isto é contra o regulamento, você não podia ter tocado na moça. Ele não disse isso apenas por causa das regras, outras coisas estavam implícitas. Ele racionalizou, sentiu ciúmes. É assim que a mente humana funciona: ninguém diz diretamente que sente ciúmes.
A jovem, uma bela jovem parada na margem do rio. O sol está se pondo e ela sente medo. Chega então o velho monge que ia para o mosteiro e olha para a moça – é sempre difícil para um monge não perceber uma jovem e não olhar para ela. Para um monge, é muito difícil. Eles são obcecados por mulheres! Estão sempre lutando, sempre cientes de que a mulher é o inimigo.
Talvez você não perceba um amigo, mas não deixa de ver um inimigo – você tem de vê-lo. Se andando pela rua, você passa por um inimigo, é impossível não vê-lo. Pode passar por amigos sem nem mesmo perceber que estão ali. Mas os inimigos não, porque eles provocam medo.
Uma bela moça, sozinha, ninguém por perto! A moça precisava de alguém para ajuda-la – o rio era desconhecido e ela sentia medo.
O monge deve ter tentado fechar os olhos, fechar o coração, fechar seu centro sexual – porque contra o inimigo, esta é sua proteção. Deve ter se apressado, evitado olhar para trás. Mas quando você evita, você olha; quando não quer olhar, está olhando.
Lembrou-se então que seu companheiro, outro monge mais jovem, vinha atrás. Olhou para trás e viu que o outro não estava só; carregava a moça em seus ombros! Isto deve ter provocado um profundo ciúme no velho. É o que ele gostaria de ter feito, e não fez por causa das regras. Mas ele se vingaria! Caminharam em silêncio durante milhas e já no portão do mosteiro, de repente, o velho disse: Aquilo não foi bom; é contra o regulamento.
Perceba, o silêncio era falso. A mente é continuidade. Durante três milhas, ele ficou pensando no que fazer – e só então falou.
O jovem monge ficou espantado. Tão de repente! Já não havia mais nenhuma moça, nem rio e nem alguém carregando. Tudo havia acontecido no passado. Andaram três milhas em silêncio. O jovem então disse: Deixei a moça na margem do rio, mas você ainda a está carregando.
Esta é uma profunda percepção. Você pode carregar coisas que não está carregando, pode estar sobrecarregado de coisas que não existem, pode estar sendo massacrado por coisas que não existem.
O velho monge escolheu o caminho da repressão. O jovem é apenas um símbolo do esforço para a transformação – porque a transformação aceita o outro, a mulher, o homem, o outro; porque a transformação tem que acontecer através do outro, o outro participa dela.
Suprimir, rejeitar, reprimir o outro é estar contra ele. O outro tem que ser destruído.

É uma bela estória. O jovem monge é o caminho. Não sejam monges velhos – carregando ressentimentos, raiva, mágoas, tristezas – carregando o passado morto nos seus ombros; sejam jovens e aceitem a vida como ela é – presente, no momento presente - e permaneçam estar alertas.

Um comentário:

  1. Sempre que posso,leio e recomendo"OSHO" Ele me ajuda a descartar dogmas que me foram ensinados na infância e também na adolescência.

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