21 de jan. de 2014

O remédio de não nascer e não morrer II


Sutra:
“Chegamos sós a este mundo, partimos sós”...

Tente entender... O propósito dos Budas ou Seres Despertos não é informa-lo, mas transformá-lo. Eles querem produzir uma radical mudança em sua consciência, querem muda-lo em suas próprias raízes. Querem trazer-lhes novos olhos e uma nova clareza. Eles querem partilhar com vocês a luz que eles têm – não pretendem informar e sim iluminar.
Por esta razão, não se interessam em saber qual é a sua pergunta. As respostas deles poderão, às vezes, parecer irrelevantes, absurdas.
Perceba a sutileza... Um monge pergunta ao Mestre: “Quem é Buda”? E o Mestre responde: “Quem é você?
Quem é Buda seria fácil responder. Ele poderia ter dito: “É Sidarta Gautama”. Mas isso é irrelevante; ele não está interessado na história do pensamento, não está interessado absolutamente em história. Não está preocupado com um determinado homem chamado Sidarta; está mais preocupado com o despertar que pode acontecer a cada um: o verdadeiro estado búdico – desperto.
Então ele diz: “Quem é você”? Não me pergunte sobre os Budas, faça apenas uma pergunta: “Quem sou eu”? E você saberá quem é Buda. Cada pessoa leve em si o potencial para ser um Buda; você não precisa olhar para fora de si.
Para encontrar a verdade, você não precisa sequer sair de seu quarto, não precisa abrir a porta, não precisa nem mesmo abrir os olhos – não precisa ir para a Índia, para o templo – a verdade é o seu próprio ser.
Lembre-se: os ensinamentos dos mestres Zen não se destinam a transmitir algo que você não saiba. Eles pretendem chocá-lo, provoca-lo para uma nova qualidade de consciência.
Tenha isto em mente quando ouvir estes sutras. Ele não está propondo uma filosofia. Seus sutras são choques, possuem uma imensa beleza, um imenso potencial para abalar qualquer pessoa.. Então, prepare-se... E ouça...

“Chegamos sós a este mundo, partimos sós”...

Perceba... Chegamos sós a este mundo e partimos sós. Todo companheirismo é ilusório. A própria ideia de companheirismo surge porque somos sós e a solidão dói. Desejamos afundar nossa solidão nos relacionamentos...
É por causa disso que ficamos tão envolvidos com o amor. Tente perceber este ponto. Você costuma pensar que se apaixonou por uma mulher, ou por um homem, por causa da beleza. A verdade não é essa, é justamente o oposto: você se apaixonou porque não pode estar só. Se uma mulher bonita não estivesse disponível, você cairia de amores por uma feia – a questão não é a beleza. E se nenhuma mulher estivesse disponível, você cairia de amores por um homem – a questão também não é a mulher. Você estava disposto a cair; você estava disposto a evitar a si mesmo, de qualquer maneira.
Se você observar o homem, se observar profundamente a si mesmo, você vai se surpreender – todas as suas atividades podem ser reduzidas a uma fonte única: o medo da solidão. O resto é desculpa. A causa real é que você se sente muito só.
E estar só é ser infeliz. Parece que não existe nenhum lugar para se ir, ninguém para se relacionar, ninguém em quem se fundir. A poesia servirá, a música servirá, o sexo servirá, o álcool servirá – você vai precisar de alguma coisa para afogar a solidão, para esquecer que é só. É esse o espinho da alma que continua ferindo. Porém, você continua arrumando desculpas.
O trabalho dos mestres consiste em trazê-lo de volta a causa original. Todos os seus casos de amor não passam de evasões, e nisso incluo todos os casos de amor.
Neste momento, observe sua mente. De mil e uma formas ela está tentando somente uma coisa: “Como esquecer o fato de que eu sou só”?
Se o amor não é possível, então cada um é só – é preciso cria-lo, acreditar nele. É preciso criar a ilusão dele, porque o indivíduo precisa evitar a própria solidão.
Perceba... Quando está sozinho, você sente medo. Mas lembre-se, esse medo não vem dos fantasmas. Quando você está sozinho, o medo vem da sua solidão. Caminhando sozinho por uma floresta à noite não tenha medo de fantasmas, ladrões ou assaltantes porque eles preferem a multidão. O que estariam fazendo na floresta à noite se há tantas vítimas disponíveis na cidade?
Sozinho num quarto escuro, não tenha medo de fantasmas; eles não passam de projeções. O que você realmente teme é a sua solidão, ela é o fantasma. E, de repente, você é obrigado a encarar a si mesmo, a perceber o seu absoluto vazio, a sua solidão, a sua impossibilidade de se relacionar.
Esse é o medo, essa é a angústia do ser humano. Se o amor não é possível, então você é só. Então é preciso tornar possível o amor, é preciso cria-lo; mesmo que seja um falso amor, precisa ser criado. Você tem de continuar amando, senão a vida será impossível.
Mas nós insistimos em ocultar essa causa porque reconhece-la implicaria sermos transformados pelo próprio reconhecimento.
E é dessa transformação que estou falando. Os Budas não estão interessados na informação, estão interessados na transformação. Você usa o seu mundo como um grande artifício para fugir de si mesmo. Os Budas destroem seus artifícios, e o trazem de volta para si mesmo.
É por isso que é reservado aos raros e corajosos estar em contato com um Buda. A mente comum não pode suportar a presença de um Buda. Por quê? Por que as pessoas se opuseram tanto a Buda, a Cristo, a Zaratustra, a Lao Tzu? Por uma única razão: porque esses homens não permitem a você o luxo da inverdade, o conforto da mentira, a comodidade de viver de ilusões. Esses homens não desistem de você; eles insistem em que você caminhe para a verdade. E a verdade é perigosa.
A primeira verdade a ser vivenciada é que cada um é só. A primeira verdade a ser vivenciada é que o amor – do modo como você conhece - é ilusório. Pense bem nisso, pense bem na amplitude disso: o amor é ilusório. E você tem vivido somente dessa ilusão.
Ninguém quer reconhecer que o seu amor é falso. As pessoas estão dispostas a acreditar que os amores passados eram falsos, mas este também é? Não, este é um amor verdadeiro. Quando ele tiver desaparecido, dirão que também era falso, e que algum outro amor será o verdadeiro. Seja qual for a ilusão na qual estão vivendo, fingem que é verdadeira.
E as pessoas continuam dizendo: Quanto aos outros amores, Osho pode estar certo – eram falsos. Mas e este? Este é uma coisa totalmente diferente. “Não é um amor comum, eu encontrei minha alma gêmea”.
A solidão é absoluta. Essas tentativas só servem para enganar a si mesmo.
Eu sei que esses discursos são depressivos. Por quê? porque tocaram as suas feridas e o pus começará a escorrer. Mas lembre-se sempre: às vezes é bom manter a ferida aberta, pois essa é a condição para curar-se.
Você gostaria de esconder sua ferida, de cobri-la com flores; você gostaria de esquecê-la. Gostaria de buscar um consolo. “Talvez o amor ainda não tenha acontecido e pode acontecer agora. Desta vez posso ser capaz de realiza-lo”.
Entretanto, o amor – como você conhece – não pode ser possível. Torná-lo possível não depende de você.

“Chegamos sós a este mundo... Partimos sós”...

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