22 de abr. de 2013

Os três amigos III



Os homens podem viver juntos e não saber nada sobre a vida?

Perceba... Nós vivemos juntos e nunca sabemos o que é união. Você pode conviver durante anos sem saber o que é união. Veja o mundo todo – as pessoas estão vivendo juntas, ninguém vive sozinho: maridos com esposas, esposas com maridos, filhos com pais, professores com alunos, amigos com amigos, todo mundo está vivendo junto. A vida existe numa união, mas você sabe o que é união?
Mesmo tendo vivido com um parceiro ou parceira durante quarenta anos, você pode não ter vivido com ele um único momento. Mesmo ao fazer amor com ele você pode estar pensando em outras coisas. Então você não estava lá, o ato de fazer amor era só mecânico.
No máximo nós toleramos. E sempre que você pensa em termos de tolerância, você está sofrendo, sua união é um sofrimento. É por isso que Jean Paul Sartre diz: “O inferno são os outros”, porque com o outro você simplesmente sofre, o outro se torna a escravidão, o outro se torna a dominação. O outro começa criando encrenca, você perde sua liberdade, perde sua felicidade. Então o relacionamento torna-se tolerância, uma rotina. E se você está tolerando o outro, como pode conhecer a beleza da união? Na verdade essa união nunca aconteceu.
O casamento quase nunca acontece de fato, porque casamento significa a celebração da união. Não é uma certidão. Nenhum cartório e nenhum sacerdote pode dar a você um casamento, como um presente. Casamento é uma tremenda revolução no ser, é uma grande transformação em seu próprio estilo de vida, e isso só pode acontecer quando você celebra a união, quando o outro já não é sentido como o outro, quando você já não se sente mais como um eu. Nesse estado, uma ponte existe e essa ponte dá a você um vislumbre do que significa uma união.
O casamento é uma das coisas mais raras desse mundo. As pessoas vivem juntas porque não conseguem viver sozinhas. Lembre-se: não conseguem viver sozinhas, é por isso que vivem juntas. Viver sozinho é desconfortável, viver sozinho é difícil, é antieconômico, por isso as pessoas vivem juntas.
Esta é a lógica. Você mora com alguém porque é confortável, prático, econômico, mais barato – perceba, na verdade é uma exploração.
O casamento é uma instituição para a exploração, não é uma união. É por isso que nenhuma felicidade surge a partir dele, como um florescer. Não pode. Como o êxtase pode nascer das raízes da exploração?
Aquele que conheceu a união conheceu o divino; aquele que é de fato casado conheceu o divino, porque o amor é a maior porta.
Mas a união não existe e vocês vivem juntos sem saber o que é união. Vocês vivem por setenta, oitenta anos, sem saber o que é a vida. As pessoas andam sem ter raízes na vida. O problema é que conhecer a vida não é hereditário.
A vida vem através do nascimento, mas a sabedoria, a experiência, o êxtase tem de ser aprendidos – daí o significado da meditação. Você tem que crescer para atingir o êxtase, tem que atingir certa maturidade.
Mas as pessoas vivem e morrem sendo infantis. Elas nunca crescem de fato, nunca atingem a maturidade. Pergunte aos psicólogos: eles dizem que a idade mental continua sendo 13 ou 14 anos. Seu corpo físico vai crescendo, mas sua idade mental para aproximadamente aos 13 anos. É por isso que não surpreende que sua vida se torne uma loucura contínua. Uma mente que não cresceu está propensa a fazer algo errado a todo o momento.
E a mente imatura sempre joga a responsabilidade no outro, por isso eu digo que essa afirmação de Sartre é muito imatura.
Quando digo maturidade, quero dizer integridade interior. E essa integridade interior só vem quando você para de jogar a responsabilidade sobre os outros, quando você para de dizer que o outro é a causa de seu sofrimento, quando você começa a perceber que você é a causa do seu sofrimento. Esse é o primeiro passo para a maturidade: eu sou o responsável.
Isso é que é a teoria do Karma. Você é responsável. Não diga que a sociedade é responsável, não diga que os pais são responsáveis. Não jogue a responsabilidade em ninguém. Você é o único responsável.
Então, fique alerta, pois a nossa mente gosta de jogar a responsabilidade em outra pessoa, ela quer se queixar, mas quando você percebe: “Eu sou responsável pela minha existência; tudo o que aconteceu, eu fui a causa, eu fui o responsável”, de repente sua consciência se desloca da periferia para o centro.
Agora há muito a ser feito – porque tudo o que você não gosta, você pode deixar de lado; tudo o que você gosta, você pode adotar, tudo o que você sente que é verdadeiro, você pode seguir, e tudo o que você sente que é falso, não há necessidade de seguir, porque você está agora centrado e enraizado em si mesmo.

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