11 de mar. de 2013

Seja uma luz para si mesmo



“Seja uma luz para si mesmo”.

Então, perceba: a entrega essencial acontece dentro de você, nada tem a ver com alguém de fora. A entrega essencial é um relaxamento, uma confiança.
Em termos linguísticos, entregar-se significa render-se a alguém, mas, em termos religiosos, significa simplesmente confiar, relaxar.
Deixe-me explicar. Você nada na água – vai até o rio e nada. O que acontece¿ Você confia na água. Um bom nadador confia tanto que quase se une à água.  Não luta contra ela, não a agarra, não fica duro e tenso. Se ficar duro e tenso, você se afogará; se ficar relaxado, o rio cuidará de tudo. É por isso que, quando alguém morre, o corpo flutua na água.
Incrível!! A pessoa viva se afogou e morreu no rio, e a pessoa morta simplesmente flutua na superfície. O que acontece¿ O morto sabe segredos sobre o rio que o vivo não sabia. A pessoa viva estava lutando. O rio era o inimigo. Ela tinha medo, não conseguia confiar. Mas, sem estar lá, como a pessoa morta poderia lutar¿ Ela está totalmente relaxada, livre de tensões, e de repente o corpo vem à tona. Nenhum rio pode afundar uma pessoa morta.
Então, vamos voltar... Confiar significa não lutar; entregar-se significa não pensar na vida como o inimigo, mas como o amigo... Quando você confia no rio, de repente começa a se divertir.
A vida é um rio. Você pode lutar ou flutuar; pode resistir ao rio e tentar nadar contra a correnteza ou flutuar com ele e ir aonde ele levar.
Perceba... Não se trata de entregar-se a uma pessoa; é simplesmente um modo de vida. Não é preciso ninguém (um Deus) a quem se entregar. Há religiões que acreditam em Deus, há outras que não acreditam, mas todas acreditam na entrega. Portanto, a entrega é o verdadeiro Deus.
O próprio conceito de Deus pode ser descartado. O budismo não acredita em nenhum Deus, o jainismo também não – mas são religiões. O cristianismo acredita em Deus, o islamismo acredita em Deus, o sikhismo também acredita – e também são religiões.
O cristão prega a entrega a Deus – Deus é apenas uma desculpa para você se entregar. É uma ajuda, pois é difícil se entregar sem um objeto. O objeto é apenas uma desculpa para que em nome de Deus, você se entregue.
O budismo diz simplesmente; entregue-se – não há Deus. Relaxe. Não há a necessidade de um objeto, é tudo uma questão de subjetividade. Relaxe, não lute, aceite.
Na verdade, a palavra “crença” é feia. Não demonstra confiança, não demonstra fé – crença é quase o oposto de fé. A palavra “crença” em inglês – belief – vem da raiz arcaica lief, que significa desejo, desejar.
Deixe-me explicar. Você diz: “Acredito em Deus”. O que está dizendo exatamente¿ Está dizendo: “Gostaria que existisse um Deus”. Quando diz: “Acredito”, na verdade, está dizendo: “Desejo intensamente”. Mas perceba, você não sabe.
Se você sabe, não é uma questão de acreditar. Você acredita nas árvores¿ Acredita no sol que nasce todas as manhãs¿ Acredita nas estrelas¿ Perceba, não é uma questão de crença. Você sabe que o sol está lá, que as árvores estão lá.
Quando você conhece, para que serve a crença¿ Crença é ignorância. Se você sabe, sabe. E, se você não sabe, é bom admitir que não sabe – a crença pode enganá-lo. A crença pode criar um clima em sua mente, no qual, sem saber, você começa a pensar que sabe. Crença não é confiança e, quanto mais você afirmar com veemência que acredita totalmente, mais medo tem da dúvida em seu íntimo.
A crença nasce do medo, não do amor. Não da confiança. Lá no fundo, há dúvida e medo.
A confiança não conhece a dúvida. A crença reprime a dúvida, é um desejo. A crença surge apenas onde a dúvida chegou – esta vem primeiro. Mais tarde, para suprimir a dúvida você se agarra à crença. A confiança vem quando a dúvida desaparece; a confiança vem quando a dúvida não está presente.
Podemos dizer que todas as crenças sufocam e o ajudam a não ficar vivo de verdade. Elas amortecem o seu ser.
Se você tiver medo de exalar o ar porque talvez ele não volte, você prende a respiração. É isso que é a crença – apegar-se, prender.
Se você exala o ar, confia na vida. A palavra budista “nirvana” significa simplesmente exalar, expirar – confiar. A confiança é um fenômeno muito inocente. A crença é da cabeça; a confiança é do coração. Você simplesmente confia na vida, pois você é da vida, vive na vida e voltará à fonte. Não há medo. Você nasce, vive e morre – não há medo. Nascerá de novo, viverá de novo e morrerá. A mesma vida que lhe deu a vida pode sempre lhe dar ainda mais, então por que ter medo¿ Por que se apegar a crenças¿ As crenças são criadas pelos homens; a confiança é criada por Deus.
A confiança simplesmente mostra que você sabe o que é amor. Não é um conceito de Deus, sentado em algum lugar no céu, manipulando e gerenciando. A confiança não precisa de Deus; a vida infinita, sua totalidade, é mais que suficiente. Quando confia, você relaxa. Esse relaxamento é a entrega.
Religião em si é entrega, relaxamento. Não se apegue a coisa alguma. O apego mostra que você não confia na vida.
É bom que a experiência religiosa tenha que ser vivida individualmente, caso contrário você jamais alcançaria o êxtase do Buda, de Jesus ou Krishna. Porque então você estaria aprendendo como um livro didático – qualquer tolo poderia transferi-la para você, mas assim toda a experiência orgástica seria perdida.
Para encerrar, Buda disse: “Seja uma luz para si mesmo”. Ele está dizendo: “Lembre-se, minha verdade não pode ser a sua verdade; minha luz não pode ser a sua luz. Incuta-se do espírito a partir de mim, fique mais sedento a partir de mim, que sua busca seja mais intensa e que você se devote totalmente a ela, aprenda comigo a devoção de um buscador de verdade – mas a verdade, a luz, arderá dentro de você. Você terá que alimentá-la dentro de si”.
Ou seja, você não pode pegar a verdade de empréstimo, ela não pode ser transferida, não é uma propriedade. É uma experiência tão sutil que não pode sequer ser expressa. Ela é inexprimível.

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