O
homem (do Tao) que segue seu caminho sem nenhum objetivo, vivendo unicamente o
presente...
Não
prejudica nenhum outro ser com suas ações.
Como ele pode prejudicar? Você só pode
prejudicar os outros quando já prejudicou a si mesmo – lembre-se: esse é o
segredo.
Assim, quem vive com feridas, quem
vive na angústia e na miséria, seja o que for que faça, só criará mais miséria
e mais angústia para os outros – você só pode dar aquilo que tem.
Você dá apenas o que tem. Você sempre
dá, na verdade, o seu ser. Se você está morto por dentro, não pode ajudar a
vida. Você pode até pensar que está ajudando os outros, mas ainda assim está
prejudicando.
Perguntaram uma vez ao grande
psicanalista Wilhelm Reich – pois ele estava estudando crianças, os problemas
delas: “Qual é o problema mais básico com relação às crianças? O que o senhor
encontrou na raiz de toda infelicidade delas, seus problemas, anomalias?”
Ele disse: “Os pais”
Nenhum pai ou mãe vai concordar com
isso, porque os pais estão apenas ajudando seu filho, sem nenhum egoísmo da
parte deles. Eles vivem e morrem pelo filho.
Mas se você está aleijado por dentro,
você vai prejudicar seus filhos. E você não pode evitar, porque você dá o que
há em seu ser – raiva, impaciência, irritação, ciúme, inveja – não existe outra
maneira de dar.
Por
isso Chunag Tzu diz:
O
homem (do Tao) que segue seu caminho sem nenhum objetivo, vivendo unicamente o
presente...
Não
prejudica nenhum outro ser com suas ações.
Não que ele cultive a não violência,
não que ele cultive a compaixão, não que ele se comporte de maneira
santificada, não. Ele não pode prejudicar porque parou de agredir a si mesmo.
Ele não tem divisões, fragmentos. Ele não é uma multidão.
Um homem assim, que atingiu a natureza
interior, não é um homem de muita atividade. Somente o necessário irá
acontecer. O desnecessário é completamente descartado, porque ele consegue
ficar à vontade sem nenhuma atividade. Ele consegue relaxar, consegue fazer
companhia a si mesmo, consegue ficar com seu eu.
Perceba... Com você acontece
exatamente o oposto. Você está ocupado com mil e uma atividades apenas para
fugir de si mesmo. Você não consegue tolerar a si mesmo, não consegue tolerar a
sua própria companhia. Você vive à procura de alguém, como um modo de fugir,
vive à procura de alguma ocupação com a qual possa se esquecer de si mesmo.
Você está entediado com você mesmo.
Daí a necessidade constante de buscar
companhia. De ir a um clube, a uma reunião, a uma festa, estar com uma
multidão, onde você não esteja sozinho. Você tem tanto medo de si mesmo que se
ficar sozinho ficará louco.
Toda a sua atividade serve apenas para
livrá-lo da sua loucura, é uma catarse.
Esse mundo, o mundo dos negócios, da
atividade e da ocupação, salva você do hospício. Se você está ocupado, a
energia se move para fora, então você não precisa se preocupar com o interior,
o mundo interior; você pode esquecê-lo.
Perceba... Você faz o que não é
essencial, você continua fazendo o que não é essencial. Olhe para as suas
atividades: noventa e nove por cento não são essenciais. Você pode deixa-las de
lado, você pode poupar muita energia, pode economizar muito tempo. Mas você não
consegue deixa-las porque tem medo, tem pavor de si mesmo. Se não houver rádio,
televisão, jornal, ninguém para conversar, o que você vai fazer?
Você não consegue descartar o não
essencial. O essencial não é suficiente, e a mente anseia pelo não essencial,
porque o essencial é tão pouco, tão pequeno, pode ser satisfeito facilmente.
Então o que você vai fazer?
As pessoas não estão interessadas em
ter uma boa alimentação, pois a boa comida pode ser obtida com muita
facilidade. Então para quê? As pessoas não estão interessadas em ter corpos
saudáveis. Isso pode ser conseguido com muita facilidade. Elas estão
interessadas em algo que não pode ser conseguido tão facilmente, algo
impossível, e o não essencial é sempre esse “impossível”. Há casas maiores,
carros maiores, eles vão ficando cada vez maiores e você nunca pode descansar.
O mundo inteiro está em busca do não
essencial. E a humanidade está morrendo de fome, as pessoas estão morrendo sem
comida, e metade da humanidade está interessada em algo absolutamente não
essencial.
Ir à Lua á algo absolutamente não
essencial. Se fôssemos um pouco mais sábios não pensaríamos nisso. É
absolutamente insensato desperdiçar tanto dinheiro quando poderíamos alimentar
toda a Terra. As guerras não são essenciais, mas a humanidade é louca, e ela
precisa mais de guerras do que de alimento.
Perceba... O não essencial é
necessário para que sua loucura permaneça ocupada. Então as Luas não são
suficientes, teremos de ir mais longe, teremos que continuar criando o inútil.
Ele é necessário. Ficar ocupado, isso é necessário.
O homem (do Tao) que segue seu caminho
sem nenhum objetivo, vivendo unicamente o presente, não é um homem de muita atividade.
Suas ações são as mais essenciais – aquelas que não podem ser evitadas. O que
pode ser evitado ele evita.
Ele está tão feliz consigo mesmo que
não há necessidade de empreender ações. Sua atividade é como a inatividade; ele
faz sem que haja alguém fazendo.
Ele é um barco vazio, navegando no
mar, indo a lugar nenhum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é importante para mim. Deixe sua mensagem.