O homem nasceu para se realizar na
vida, mas tudo depende dele.
Ele pode não alcançar. Pode continuar
respirando, pode continuar comendo, envelhecendo, pode continuar indo em
direção à sepultura, mas isso não é vida. Isso é uma morte gradativa, do berço
à sepultura.
E porque milhões de pessoas que o
cercam estão morrendo essa morte gradual, lenta, você também começa a
imitá-los. As crianças aprendem tudo com as pessoas que as cercam, e nós
estamos cercados pelos mortos.
Assim,
primeiro temos que entender o que quero dizer com “vida”.
A vida não deve ser simplesmente um
envelhecer. A vida deve ser um crescer.
E trata-se de duas coisas diferentes. Qualquer
animal é capaz de envelhecer. Mas crescer é um privilégio dos seres humanos e
apenas uns poucos reivindicam esse direito.
Crescer significa penetrar, a cada
momento, mais profundamente nos princípios da vida; significa ir se afastando
da morte. E quanto mais fundo você for na vida, mais perceberá a imortalidade
dentro de si.
Para crescer apenas observe uma
árvore. À medida que a árvore cresce, suas raízes se aprofundam.
Você não pode ter uma árvore de 50
metros de altura com raízes pequenas; elas não poderiam sustentar uma árvore
tão imensa. Na vida, crescer significa aprofundar-se dentro de si mesmo – é aí
que suas raízes se encontram.
Pra mim, o princípio fundamental da
vida é a meditação. Tudo o mais vem em segundo lugar.
E a infância é a melhor época. À
medida que você envelhece, torna-se cada vez mais difícil entrar em meditação.
Meditação significa mergulhar na sua
imortalidade, mergulhar na sua eternidade, mergulhar na sua divindade.
E a criança é a pessoa mais
qualificada, porque ainda não foi contaminada pelo conhecimento, pela religião,
pela educação, por todo tipo de lixo. Ela é totalmente inocente.
Mas infelizmente essa inocência está
sendo condenada como ignorância. Ignorância e inocência têm uma certa
semelhança, mas não são a mesma coisa.
Uma criança pequena não tem ambições,
não tem desejos. Ela está absorvida pelo momento – um pássaro voando prende sua
atenção totalmente; apenas uma simples borboleta, suas lindas cores, e a
criança fica encantada.
Perceba... A inocência é rica, é
plena, é pura.
A ignorância é pobre, é um mendigo –
ela quer isso, quer aquilo, quer ser culta, quer ser respeitada, quer ser rica,
quer ser poderosa.
A ignorância se move pelo caminho do
desejo.
A inocência é um estado livre de
desejos.
Toda criança está sendo entupida com
conhecimento.
Sua simplicidade deve ser, de alguma
maneira, removida, porque a simplicidade não o ajudará neste mundo competitivo.
Sua simplicidade fará com que o mundo o considere um tolo; e com medo da
sociedade, com medo do mundo que nós criamos, tentamos tornar todas as crianças
espertas, astutas, instruídas – para que estejam na categoria dos poderosos,
não na categoria dos oprimidos e dos sem poder. E uma vez que uma criança
começa a crescer na direção errada, toda a sua vida passa a se mover nessa
direção.
Quando você chegar a entender que
perdeu sua vida, o primeiro princípio a ser trazido de volta é a inocência.
Abandonar o seu conhecimento, esquecer
as escrituras, esquecer suas religiões, suas teologias. Voltar a nascer, tornar-se
inocente – e isso está em suas mãos. Limpe sua mente de tudo que não é seu
conhecimento próprio, de tudo que é emprestado, de tudo que veio através da
tradição, dos costumes, de tudo que foi dado a você pelos outros – pais,
professores, universidades. Simplesmente livre-se de tudo isso. E volte a ser
simples. Uma criança novamente.
E este milagre é possível através da
meditação.
A vida deve ser uma busca – não um desejo,
mas uma procura; não uma ambição para se tornar isso ou aquilo, mas uma busca
para descobrir “quem sou eu?”
É muito estranho que as pessoas que
não saibam quem elas são estejam tentando tornar-se alguém. Elas nem ao menos
sabem quem são neste exato momento. Elas não conhecem o seu próprio ser.
E descobrir o seu ser é o começo da
vida. Então cada momento traz uma nova descoberta, cada momento traz uma nova
alegria. Um novo mistério abre suas portas, um novo amor começa a crescer em
você – uma nova compaixão, que você nunca sentiu antes, uma nova sensibilidade
para a beleza, para a bondade.
E essa sensibilidade criará novas
amizades para você – amizade com as árvores, com os pássaros, com os animais,
com as montanhas, com os rios e oceanos, com as estrelas. A vida se torna mais
rica na medida em que o amor cresce, em que a amizade cresce.
À medida que você se torna mais
sensível, a vida vai ficando maior. A vida não é um pequeno lago, ela se torna
oceânica. Não fica limitada a você, e à sua esposa e às suas crianças – ela não
tem limite algum.
Toda essa existência se torna sua
família e, a menos que toda a existência passe a ser sua família, você não
conheceu o que é a vida – porque nenhum homem é uma ilha, estamos todos
relacionados. E se nossos corações não estiverem cheios de amor pelo Todo,
nossas vidas se tornarão menor na mesma proporção.
A meditação lhe trará sensibilidade,
uma profunda sensação de pertencer ao mundo. Esse mundo nos pertence, as
estrelas nos pertencem. Nós não somos estrangeiros aqui! Nós somos partes da
existência – somos o seu coração.
E a partir dessa compreensão, um profundo
silêncio virá – porque todo lixo do conhecimento se foi. Os pensamentos, que
são parte desse conhecimento, também se foram...
Um imenso silêncio... E você ficará
surpreso: este silêncio é a única música que existe.
Texto publicado em fevereiro de 2011 aqui no Blog, e revisado em agosto de 2016
Excelente ;]
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