30 de ago. de 2016

Pecado é não gozar a vida


O homem nasceu para se realizar na vida, mas tudo depende dele.
Ele pode não alcançar. Pode continuar respirando, pode continuar comendo, envelhecendo, pode continuar indo em direção à sepultura, mas isso não é vida. Isso é uma morte gradativa, do berço à sepultura.
E porque milhões de pessoas que o cercam estão morrendo essa morte gradual, lenta, você também começa a imitá-los. As crianças aprendem tudo com as pessoas que as cercam, e nós estamos cercados pelos mortos.

Assim, primeiro temos que entender o que quero dizer com “vida”.
A vida não deve ser simplesmente um envelhecer. A vida deve ser um crescer.
E trata-se de duas coisas diferentes. Qualquer animal é capaz de envelhecer. Mas crescer é um privilégio dos seres humanos e apenas uns poucos reivindicam esse direito.
Crescer significa penetrar, a cada momento, mais profundamente nos princípios da vida; significa ir se afastando da morte. E quanto mais fundo você for na vida, mais perceberá a imortalidade dentro de si.
Para crescer apenas observe uma árvore. À medida que a árvore cresce, suas raízes se aprofundam.
Você não pode ter uma árvore de 50 metros de altura com raízes pequenas; elas não poderiam sustentar uma árvore tão imensa. Na vida, crescer significa aprofundar-se dentro de si mesmo – é aí que suas raízes se encontram.

Pra mim, o princípio fundamental da vida é a meditação. Tudo o mais vem em segundo lugar.
E a infância é a melhor época. À medida que você envelhece, torna-se cada vez mais difícil entrar em meditação.
Meditação significa mergulhar na sua imortalidade, mergulhar na sua eternidade, mergulhar na sua divindade.
E a criança é a pessoa mais qualificada, porque ainda não foi contaminada pelo conhecimento, pela religião, pela educação, por todo tipo de lixo. Ela é totalmente inocente.
Mas infelizmente essa inocência está sendo condenada como ignorância. Ignorância e inocência têm uma certa semelhança, mas não são a mesma coisa.
Uma criança pequena não tem ambições, não tem desejos. Ela está absorvida pelo momento – um pássaro voando prende sua atenção totalmente; apenas uma simples borboleta, suas lindas cores, e a criança fica encantada.
Perceba... A inocência é rica, é plena, é pura.
A ignorância é pobre, é um mendigo – ela quer isso, quer aquilo, quer ser culta, quer ser respeitada, quer ser rica, quer ser poderosa.
A ignorância se move pelo caminho do desejo.
A inocência é um estado livre de desejos.

Toda criança está sendo entupida com conhecimento.
Sua simplicidade deve ser, de alguma maneira, removida, porque a simplicidade não o ajudará neste mundo competitivo. Sua simplicidade fará com que o mundo o considere um tolo; e com medo da sociedade, com medo do mundo que nós criamos, tentamos tornar todas as crianças espertas, astutas, instruídas – para que estejam na categoria dos poderosos, não na categoria dos oprimidos e dos sem poder. E uma vez que uma criança começa a crescer na direção errada, toda a sua vida passa a se mover nessa direção.
Quando você chegar a entender que perdeu sua vida, o primeiro princípio a ser trazido de volta é a inocência.
Abandonar o seu conhecimento, esquecer as escrituras, esquecer suas religiões, suas teologias. Voltar a nascer, tornar-se inocente – e isso está em suas mãos. Limpe sua mente de tudo que não é seu conhecimento próprio, de tudo que é emprestado, de tudo que veio através da tradição, dos costumes, de tudo que foi dado a você pelos outros – pais, professores, universidades. Simplesmente livre-se de tudo isso. E volte a ser simples. Uma criança novamente.
E este milagre é possível através da meditação.

A vida deve ser uma busca – não um desejo, mas uma procura; não uma ambição para se tornar isso ou aquilo, mas uma busca para descobrir “quem sou eu?”
É muito estranho que as pessoas que não saibam quem elas são estejam tentando tornar-se alguém. Elas nem ao menos sabem quem são neste exato momento. Elas não conhecem o seu próprio ser.
E descobrir o seu ser é o começo da vida. Então cada momento traz uma nova descoberta, cada momento traz uma nova alegria. Um novo mistério abre suas portas, um novo amor começa a crescer em você – uma nova compaixão, que você nunca sentiu antes, uma nova sensibilidade para a beleza, para a bondade.
E essa sensibilidade criará novas amizades para você – amizade com as árvores, com os pássaros, com os animais, com as montanhas, com os rios e oceanos, com as estrelas. A vida se torna mais rica na medida em que o amor cresce, em que a amizade cresce.
À medida que você se torna mais sensível, a vida vai ficando maior. A vida não é um pequeno lago, ela se torna oceânica. Não fica limitada a você, e à sua esposa e às suas crianças – ela não tem limite algum.
Toda essa existência se torna sua família e, a menos que toda a existência passe a ser sua família, você não conheceu o que é a vida – porque nenhum homem é uma ilha, estamos todos relacionados. E se nossos corações não estiverem cheios de amor pelo Todo, nossas vidas se tornarão menor na mesma proporção.
A meditação lhe trará sensibilidade, uma profunda sensação de pertencer ao mundo. Esse mundo nos pertence, as estrelas nos pertencem. Nós não somos estrangeiros aqui! Nós somos partes da existência – somos o seu coração.
E a partir dessa compreensão, um profundo silêncio virá – porque todo lixo do conhecimento se foi. Os pensamentos, que são parte desse conhecimento, também se foram...

Um imenso silêncio... E você ficará surpreso: este silêncio é a única música que existe.

Texto publicado em fevereiro de 2011 aqui no Blog, e revisado em agosto de 2016

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