15 de ago. de 2016

O amor no concreto

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Hoje começaremos com uma pequena história...
Um homem estava fazendo um novo piso de concreto. Tão logo virou as costas, uma multidão de crianças veio correndo, deixando pegadas por toda a superfície do concreto fresco. Um vizinho, ao ouvi-lo praguejar, o censurou dizendo: “Eu pensei que você gostasse de crianças, Jorge”.
E Jorge respondeu: “Eu gosto, mas no abstrato, não no concreto”.
Perceba que é muito fácil amar as pessoas no abstrato, o verdadeiro problema surge no concreto. E lembre-se, a menos que você ame os seres humanos – seres humanos concretos, reais – todo o seu amor por árvores, animais e pássaros será falso, simplesmente uma encenação.
Se você puder amar seres humanos, somente então surgirá um ponto em sua consciência de onde você poderá também amar pássaros, árvores e montanhas. Mas isso acontece somente mais tarde. Se você não pode penetrar uma realidade que está tão próxima, como pode penetrar uma realidade que está tão distante? Como é que você pode estar em comunhão com uma pedra? - não existe uma linguagem comum, a distância é muito vasta. Primeiro, transponha a pedra com as pessoas.
É perfeitamente possível amar um animal, uma árvore, mas isso somente quando você tiver amado seres humanos; e amado tão profundamente, tão totalmente, que tenha encontrado árvores nos seres humanos, que tenha encontrado animais nos seres humanos, que tenha visto pássaros nos seres humanos – só assim; porque um ser humano foi todas essas coisas, ele ainda carrega as marcas no seu inconsciente, ou no inconsciente coletivo. Você foi todas essas coisas, e todas essas experiências ainda se encontram dentro de você. A única maneira de relacionar-se com a árvore exterior é estabelecendo contato, primeiro com a árvore que está dentro de um ser humano.
Apaixone-se por seres humanos. Corra o risco, seja corajoso.
Sofra as dores do amor e seus êxtases. Penetre mais profundamente nos seres humanos e logo descobrirá que nenhum ser humano é simplesmente um ser humano. Um ser humano é um ser humano acrescido de toda a existência, porque ele é o mais alto ponto na evolução. Tudo aquilo que o ser humano foi no passado ainda está nele, camada sobre camada.
Você não sentiu, alguma vez, na mulher, que ela é um gato? Você já não olhou nos olhos de uma mulher e de repente sentiu o gato lá dentro? Sem ser um gato, nenhuma mulher pode ser uma mulher. E o mesmo ocorre com o homem – você encontrará o lobo.
O homem evoluiu através de tudo que existe. Exatamente como você, que foi uma criança e depois se tornou um jovem; você acha que sua infância desapareceu completamente?
Você pode ter ficado velho – a juventude simplesmente desapareceu de você? Ela ainda está aí; você simplesmente formou uma outra camada. Simplesmente corte uma árvore e você encontrará camadas e mais camadas na árvore. É desta forma que se determina a idade de uma árvore: se ela tiver 60 anos de idade, então haverá 60 camadas. A cada ano ela perde a casca e surge uma nova camada.
Do mesmo modo, se você se aprofundar nos seres humanos você encontrará camadas, como nas árvores e nas pedras. Quanto mais fundo você for, mais vai encontrar coisas estranhas acontecendo. Enquanto você estiver fazendo amor, se você puder se entregar totalmente, você estará fazendo amor com animais, com árvores, com pedras, com a própria existência.
Cada indivíduo é um pequeno mundo. Um microcosmo contém tudo; ele contém a totalidade. Ele contém o macrocosmo. Mas você não pode evitar os seres humanos. Você não pode dizer: “Eu amarei os animais, as árvores, mas não os seres humanos”.

Então as suas árvores serão falsas, então os seus animais serão falsos. Primeiro elas devem ser amadas nos seres humanos. Só assim você conhecerá a linguagem das árvores, a linguagem dos animais.

Obs: Texto publicado em novembro de 2011 e revisado em Agosto de 2016

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