11 de ago. de 2016

É mesmo?


O que é vida pura? A que você dá o nome de pureza? O que você chama de pureza, na realidade, é apena uma avaliação, uma avaliação moral.
É preciso que isso seja compreendido antes de mais nada. Se você compreender profundamente, poderá entender o que é um homem consciente.
A pureza é exatamente como uma criança: inocente. Inocente sobre o que é bom e o que é mau.
A pureza real não sabe quem é Deus e quem é o demônio.
A sua pureza, entretanto, é uma escolha de Deus contra o demônio – uma escolha do bem contra o mal. Perceba... Você distingue, divide a existência. E uma existência dividida não pode caminhar para a inocência.
A inocência floresce apenas quando a existência não está dividida, quando você a aceita totalmente: sem escolhas, sem divisões, sem distinções. Quando você realmente não sabe o que é bom e o que é mau. Quando você sabe, avalia, calcula. Então, sua pureza é uma manipulação, não é mais um florescimento.

Vou lhe contar uma história. Ela foi escrita por Khalil Gibran; é muito bonita.
Um padre estava indo para o templo. Bem ao lado da estrada, ele viu um homem quase á beira da morte: sangrando, morrendo, parecendo ter sido severamente atacado.
O padre estava com pressa. Tinha de chegar logo ao templo porque muitas pessoas estavam lá a sua espera. Mas ele era um homem de moral – não direi de pureza. Assim, avaliou a situação e pensou: “É melhor auxiliar esse homem que está morrendo, jesus mesmo disse que é melhor esquecer o templo e os adoradores. Eles podem esperar um pouco. Esse homem tem de ser auxiliado imediatamente. Do contrário morrerá.
O padre, então, dirigiu-se ao homem, mas no momento em que viu a face dele ficou assustado. Essa face parecia familiar: era demoníaca. Então, repentinamente, lembrou-se de que no seu templo havia uma figura do demônio. E era esse o homem! Esse homem era o demônio, o próprio! Então, começou a correr em direção ao templo.
O demônio o chamou e disse: “Padre, ouça! Se eu morrer, você vai se arrepender para sempre. Porque se eu morrer, onde ficará seu Deus? Se o mau morrer, como você saberá o que é bom? Você existe por minha causa. Pense melhor”!
O sacerdote parou. O demônio estava certo. Se ele morresse, não haveria mais inferno. Se não houvesse medo, quem iria adorar a Deus? Todos os religiosos se baseiam no medo!
Você está com medo. Seu amor a Deus está baseado no medo que tem do demônio. Sua bondade é medida pela maldade. Deus precisa do demônio.
O demônio disse: “Deus necessita de mim! Ele não pode existir sem mim. Todos os templos cairão e ninguém mais virá adorá-lo. Você não encontrará um único religioso se eu não existir. Eu os tento. E, por meio da minha tentação, eles tornam-se santos. Você já ouviu falar, alguma vez, de um santo que não tivesse sido tentado pelo demônio? Seu Jesus, seu Zaratrusta, seu Buda – todos foram tentados por mim! Fui eu quem os fez santo. Volte”!
O padre hesitou um pouco. Mas o demônio era lógico. O demônio é sempre lógico. É a lógica personificada. É impossível vencer uma argumentação com o demônio.
O padre teve de ceder e concordar. Ele disse: “Parece que você está certo. Como ficaremos sem você”? Então, carregou o demônio nas costas até o hospital Esperou lá até ter certeza de que o demônio estava fora de perigo. E com o demônio, todos os templos, todos os padres e todas as religiões sobreviveriam!

Perceba, esse padre era um homem moral, mas não puro. Sua vida era um cálculo matemático. E quando você calcula é sempre derrotado pelo demônio.
Um homem inocente não sabe quem é Deus e quem é o demônio. Um homem inocente vive de sua inocência, não de seu cálculo. É simples. Vive cada momento. O passado e o futuro não significam nada. Cada momento é suficiente em si mesmo.
Mas e a sua moralidade!? Sua moralidade é criada pelo padre, pelo homem que auxiliou o demônio só porque ele argumentou corretamente. Sua moralidade não é pura. Quando você conhece alguém que se comporta de um modo que você acha puro, você o honra, chama-o de santo. Porém, seus santos são tão falsos quanto você, porque é você quem decide e julga quem é santo. Sua moralidade é apenas um medo, um medo disfarçado. E o disfarce é tão inteligente que você nunca percebe.
Se você não se tornar inocente – inocente como as árvores, inocente como os animais, inocente como os bebês – como pode a pureza ser sentida? Não é algo que você possa controlar. Se tentar controlar, estará se reprimindo e o oposto permanecerá presente - presente no inconsciente, esperando o momento certo de aflorar.
O que estou querendo dizer é que se você escolher ser não violento, a violência permanecerá em seu interior. Se você decidir tornar-se um celibatário, o sexo continuará escondido em seu inconsciente.
E é isso que acontece com a maioria dos padres, monges e sacerdotes... Eles escolheram fugir do mundo, no entanto, em algum momento o desejo vem à tona. Se existir escolha, o não-escolhido permanecerá em forma de repressão. Apenas numa mente inocente o oposto desaparece porque nada foi escolhido.


Então, não escolha, apenas compreenda. Não escolha nem mesmo a não-escolha. Simplesmente compreenda toda a situação. Observe como tudo que escolhe, tudo o que faz, vem da sua mente calculadora, não da realidade. Sua mente produz apenas sonhos, não pode produzir a verdade. A verdade não pode ser produzida. Ela está aí! Basta vê-la. Não existe nada a ser feito, somente um olhar é necessário, um olhar sem qualquer preconceito, um olhar sem qualquer escolha, um olhar sem qualquer distinção.

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