O que é vida pura? A que você dá o
nome de pureza? O que você chama de pureza, na realidade, é apena uma
avaliação, uma avaliação moral.
É preciso que isso seja compreendido
antes de mais nada. Se você compreender profundamente, poderá entender o que é
um homem consciente.
A pureza é exatamente como uma
criança: inocente. Inocente sobre o que é bom e o que é mau.
A pureza real não sabe quem é Deus e
quem é o demônio.
A sua pureza, entretanto, é uma
escolha de Deus contra o demônio – uma escolha do bem contra o mal. Perceba... Você
distingue, divide a existência. E uma existência dividida não pode caminhar
para a inocência.
A inocência floresce apenas quando a
existência não está dividida, quando você a aceita totalmente: sem escolhas,
sem divisões, sem distinções. Quando você realmente não sabe o que é bom e o
que é mau. Quando você sabe, avalia, calcula. Então, sua pureza é uma
manipulação, não é mais um florescimento.
Vou
lhe contar uma história. Ela foi escrita por Khalil Gibran; é muito bonita.
Um padre estava indo para o templo.
Bem ao lado da estrada, ele viu um homem quase á beira da morte: sangrando,
morrendo, parecendo ter sido severamente atacado.
O padre estava com pressa. Tinha de
chegar logo ao templo porque muitas pessoas estavam lá a sua espera. Mas ele
era um homem de moral – não direi de pureza. Assim, avaliou a situação e
pensou: “É melhor auxiliar esse homem que está morrendo, jesus mesmo disse que
é melhor esquecer o templo e os adoradores. Eles podem esperar um pouco. Esse
homem tem de ser auxiliado imediatamente. Do contrário morrerá.
O padre, então, dirigiu-se ao homem,
mas no momento em que viu a face dele ficou assustado. Essa face parecia
familiar: era demoníaca. Então, repentinamente, lembrou-se de que no seu templo
havia uma figura do demônio. E era esse o homem! Esse homem era o demônio, o
próprio! Então, começou a correr em direção ao templo.
O demônio o chamou e disse: “Padre,
ouça! Se eu morrer, você vai se arrepender para sempre. Porque se eu morrer,
onde ficará seu Deus? Se o mau morrer, como você saberá o que é bom? Você
existe por minha causa. Pense melhor”!
O sacerdote parou. O demônio estava
certo. Se ele morresse, não haveria mais inferno. Se não houvesse medo, quem
iria adorar a Deus? Todos os religiosos se baseiam no medo!
Você está com medo. Seu amor a Deus
está baseado no medo que tem do demônio. Sua bondade é medida pela maldade.
Deus precisa do demônio.
O demônio disse: “Deus necessita de
mim! Ele não pode existir sem mim. Todos os templos cairão e ninguém mais virá
adorá-lo. Você não encontrará um único religioso se eu não existir. Eu os
tento. E, por meio da minha tentação, eles tornam-se santos. Você já ouviu
falar, alguma vez, de um santo que não tivesse sido tentado pelo demônio? Seu
Jesus, seu Zaratrusta, seu Buda – todos foram tentados por mim! Fui eu quem os
fez santo. Volte”!
O padre hesitou um pouco. Mas o demônio
era lógico. O demônio é sempre lógico. É a lógica personificada. É impossível
vencer uma argumentação com o demônio.
O padre teve de ceder e concordar. Ele
disse: “Parece que você está certo. Como ficaremos sem você”? Então, carregou o
demônio nas costas até o hospital Esperou lá até ter certeza de que o demônio
estava fora de perigo. E com o demônio, todos os templos, todos os padres e
todas as religiões sobreviveriam!
Perceba, esse padre era um homem
moral, mas não puro. Sua vida era um cálculo matemático. E quando você calcula
é sempre derrotado pelo demônio.
Um homem inocente não sabe quem é Deus
e quem é o demônio. Um homem inocente vive de sua inocência, não de seu
cálculo. É simples. Vive cada momento. O passado e o futuro não significam nada.
Cada momento é suficiente em si mesmo.
Mas e a sua moralidade!? Sua
moralidade é criada pelo padre, pelo homem que auxiliou o demônio só porque ele
argumentou corretamente. Sua moralidade não é pura. Quando você conhece alguém
que se comporta de um modo que você acha puro, você o honra, chama-o de santo. Porém,
seus santos são tão falsos quanto você, porque é você quem decide e julga quem
é santo. Sua moralidade é apenas um medo, um medo disfarçado. E o disfarce é
tão inteligente que você nunca percebe.
Se você não se tornar inocente –
inocente como as árvores, inocente como os animais, inocente como os bebês –
como pode a pureza ser sentida? Não é algo que você possa controlar. Se tentar
controlar, estará se reprimindo e o oposto permanecerá presente - presente no
inconsciente, esperando o momento certo de aflorar.
O que estou querendo dizer é que se
você escolher ser não violento, a violência permanecerá em seu interior. Se
você decidir tornar-se um celibatário, o sexo continuará escondido em seu
inconsciente.
E é isso que acontece com a maioria
dos padres, monges e sacerdotes... Eles escolheram fugir do mundo, no entanto,
em algum momento o desejo vem à tona. Se existir escolha, o não-escolhido
permanecerá em forma de repressão. Apenas numa mente inocente o oposto
desaparece porque nada foi escolhido.
Então, não escolha, apenas compreenda.
Não escolha nem mesmo a não-escolha. Simplesmente compreenda toda a situação. Observe
como tudo que escolhe, tudo o que faz, vem da sua mente calculadora, não da
realidade. Sua mente produz apenas sonhos, não pode produzir a verdade. A
verdade não pode ser produzida. Ela está aí! Basta vê-la. Não existe nada a ser
feito, somente um olhar é necessário, um olhar sem qualquer preconceito, um
olhar sem qualquer escolha, um olhar sem qualquer distinção.
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