27 de out. de 2010

A porta vazia está escancarada II



O mestre Zen diz:
Todo mundo tem um Buda dentro de si, mas o Buda não é santo, não é inteiro.

Perceba... Nós vivemos em fragmentos. Um vive na cabeça, outro no coração, outro vive no corpo, outro vive em algum outro lugar. Um se aplica no dinheiro, outro no poder, outro em alguma outra viagem. Mas ninguém é íntegro (inteiro), plenamente consciente no que está fazendo, plenamente consciente no que está sendo.

As abelhas devem ter algo parecido com as mentes humanas, exatamente a mesma espécie de estupidez. As portas podem estar abertas, mas se uma abelha estiver dentro da sala, presa na sala...
Elas entram pela porta escancarada e querem sair pelo vidro da janela fechada. E quanto mais ela tenta, mais desesperada ela fica e começa a tentar passar pela parede, pelo teto, por qualquer lugar. E quanto mais ela tenta, mais desesperada ela fica, mas não há nenhum meio de se passar pelo teto, ou pela parede, ou pela janela fechada. E no desespero, na frustração, ela se torna cada vez mais e mais cega, medrosa e apavorada. Ela perde toda a inteligência.
E o mesmo está acontecendo com os seres humanos.

Se você está vivendo certo dilema, a primeira coisa, a saber, é como você entrou nele, ao invés de tentar sair dele. Sem fazer a pergunta mais fundamental e primária, você tornará as coisas piores.
E é isso o que as pessoas estão fazendo. Elas perguntam “como podemos sair da nossa raiva, da nossa avareza, do nosso apego, da nossa mesquinhez, como podemos sair da nossa possessividade, sair disso e daquilo”?
Mas essas mesmas pessoas não perguntam “como entramos nisso”? antes de tudo.
Toda a abordagem de Buda é esta: Primeiro veja como você entrou na raiva. Se você puder ver a entrada, a mesma porta é a saída... Não é preciso nenhuma outra porta. Mas sem estar consciente da entrada, se você tentar encontrar a saída, você não vai encontrar – você vai ficar cada vez mais desesperado. E é isso que as pessoas continuam fazendo.

Nas escrituras, o que você está procurando? Soluções. Você cria os problemas – e as soluções estão nas escrituras?! Por que você não olha para os problemas, você mesmo? Como você os cria? Por que você não observa quando está criando certo problema?
E você cria problemas todos os dias. Hoje mesmo, em algum momento do dia, você vai ficar com raiva de novo. Então veja como isso surge, veja como você entra nisso, perceba como isso se torna tão grande que você se perde...

Você está se comportando quase como uma abelha estúpida. As abelhas podem ser perdoadas, mas você não pode ser perdoado.

E a bela oportunidade surgiu porque uma abelha entrou no cômodo. Ora, a abelha entra pela porta aberta. Por onde ela entraria¿ Então perceba... Como foi que você entrou no mundo? Como é que você entra todos os dias no mundo, quando se levanta de manhã?
Alguma vez você já observou¿ - quando, no primeiro momento da manhã, você se torna consciente que o sono se foi, há uma brecha de alguns segundos, no qual a mente não existe – somente de alguns segundos. O sono não existe mais e o mundo ainda não começou a existir. A mente vai levar um pouco de tempo pra começar. Há uma brecha, um intervalo, por alguns segundos. Se você for suficientemente alerta, você será capaz de ver como você entra todos os dias no mundo. Qual é o seu primeiro pensamento? Você pode dizer qual foi o seu primeiro pensamento hoje? Você deve ter entrado, mas você não está absolutamente ciente.
Nós vivemos tão mecanicamente. Cada momento é uma oportunidade, mas nós vamos perdendo-a na nossa estupidez.

A coisa mais importante, sempre que você estiver num problema, não é começar a fazer algo imediatamente, caso contrário, você tornará o problema maior e pior. A coisa mais significativa é não fazer nada nesse momento, absolutamente. Simplesmente sente-se silenciosamente, relaxe, descanse... Fique num... Deixe ir! Ao invés de tentar descobrir o caminho, observe por onde você entrou, porque todo problema tem sua própria solução e cada pergunta tem sua própria resposta em si.
Se você for suficientemente atencioso, se você for suficientemente consciente, você será capaz de descobrir por onde você entrou na raiva, se você for suficientemente atencioso, você será capaz de descobrir por onde você entrou no ciúme, na possessividade, no apego, na mesquinhez... E nenhuma escritura irá ajudar.

Os sutras, as escrituras são boas enquanto vocês são crianças, mas chega um tempo em que você deve se tornar maduro o bastante para ir além da informação e começar a procurar pela transformação.
Mas Vivemos tão mecanicamente... E cada momento nos perdendo na nossa estupidez...
Por alguns instantes, observe a sua respiração... Não perca esta oportunidade... E encontre um espaço sagrado de silêncio...

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