30 de out. de 2010

Destino


Perceba que uma gota não tem como saber o que é um oceano até que se dissolva no próprio oceano.
Do mesmo modo, enquanto o indivíduo existir, a vontade da existência não será conhecida.
Se vc puder abrir mão da sua individualidade, se puder abrir mão do ego, se puder se entregar totalmente, se vc puder desaparecer no Todo e lutar como um instrumento, como uma testemunha...
Então a vontade da existência será conhecida o tempo todo.
Tente perceber que não há maneira de alterarmos a realização da existência.
Mas podemos lutar, podemos nos arruinar, podemos destruir a nós mesmos na esperança de alterarmos a vontade da existência.
Existe uma história muito interessante de dois pedaços de palha que estão se afogando em um rio caudaloso.
Uma das palhas, que está disposta em diagonal na correnteza, está tentando conter o rio, está gritando que não deixará o rio continuar.
Apesar das águas do rio continuarem rolando e a palha ser incapaz de controlá-las, ela continua gritando que o rio será contido.
Mas essa palha continua se afogando.
O rio não ouve a sua voz e não sabe que a palha está lutando contra ele.
É uma palha muito pequena, o rio não sabe que ela existe, e ela não faz a menor diferença para ele.
Mas para a palha é uma questão de grande importância.
É a maior dificuldade de sua vida, ela está se afogando, mas continua lutando... Ela chegará ao mesmo lugar que chegaria se não estivesse lutando.
No entanto, como está lutando, esse momento, esse período será de dor, pesar, de conflito e ansiedade.
A palha perto dela se soltou. Ela não está indo contra o fluxo. Ela está deitada reta, na direção em que o rio está correndo...
E acredita que está ajudando o rio a correr.
O rio também não conhece a existência dessa palha.
Mas a palha pensa que, como está levando o rio para o mar, o rio vai chegar lá. E o rio desconhece essa ajuda.
Tudo isso não faz a menor diferença para o rio, mas para as duas palhas trata-se de um assunto de grande importância.
Aquela que está guiando o fluxo do rio está sentindo uma imensa alegria; está dançando, repleta de prazer.
A palha que está lutando contra o rio está sofrendo muito.
Sua dança não é uma dança, é um pesadelo.
Na vida é a mesma coisa...
Um indivíduo não consegue fazer qualquer coisa exceto pela vontade da existência.
Mas ele tem a liberdade de lutar, e lutando ele tem a liberdade de ficar ansioso.
Segundo Sartre “o homem está condenado a ser livre”.
No entanto, o homem pode usar a sua liberdade de duas maneiras:
Pode usar sua liberdade contra a existência e criar um conflito. Nesse caso sua vida será de pesar, dor e angústia.
Outro indivíduo pode fazer de sua liberdade um objeto de entrega à existência – e sua vida será uma vida de alegria, uma vida de dança e canção.
Então é impossível conhecer a vontade da existência, mas certamente é possível transformar-se em um com Ela.
E se for o caso, então a vontade da pessoa desaparecerá e apenas a vontade da existência permanecerá.

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